sexta-feira, 26 de junho de 2009

Web 2.0

A web 2.0 é caracterizada como uma segunda geração de comunidades e serviços, tendo por pilares a participação dos usuários e o uso da inteligência coletiva. É uma nova forma de relacionamento dos usuários com a rede, pautada num ambiente de interação.
Após a leitura do texto, elaboramos uma espécie de resumo alusivo aos tópicos do autor Tim O’Reilly[1], “O que é Web 2.0 – Padrões de design e modelos de negócios para a nova geração de software ” e tecemos alguns comentários referentes a alguns aspectos evidenciados no escrito.

1. A web como plataforma
Na web 1.0 (Netscape, DoubleClick, Akamai) o foco estava pautado na publicação de conteúdo, e não na participação, no interesse dos anunciantes e na compra de softwares.
Já a web 2.0 (Google, Overture, AdSense, BitTorrent) é considerada como um sistema solar de sites que agrega uma gama enorme de informação, utilizando-se amplamente da cauda longa. Ela também tem por princípio ser um Beta perpétuo, pois está em constantes inovações e alterações. Possibilita a participação rica dos usuários e usa o sistema de folksonomia (maneira de indexação das informações – através de tags) e inúmeras redes sociais. Qualquer pessoa se torna um servidor, aumentando a rede.

2. Tirando proveito da inteligência coletiva
À medida que mais pessoas utilizam a rede mais ela aumenta, pois cresce organicamente. Todas podem ser desenvolvedores e atualizadores de conteúdo. Companhias como o Wikipedia são um belo exemplo dessa prática, pois todos vêem o conteúdo de forma coletiva e escrevem de forma coletiva também. A utilização do PageRank, que fornece melhores resultados de busca, transformou a Google num fenômeno da rede. A ebay e a Amazon desenvolveram métodos para o engajamento do usuário, agregando valor às suas marcas. O Flickr e o del.icio.us utilizam as tags em sua estrutura.
São as contribuições dos usuários que dão a supremacia da rede e fazem as companhias que estão atentas a esse aspecto terem sucesso. Entretanto, a participação dos usuários não está apenas restrita a colaborar em sites de companhias já estabelecidas. Também há a possibilidade de desenvolver conteúdo em blogs próprios.

3. Dados são o próximo Intel Inside
A web 2.0 se centra no gerenciamento de banco de dados entre companhias. Nesta era 2.0 o controle de dados leva ao controle do mercado como já aconteceu em vários casos.
A preocupação dos usuários com a privacidade e os direitos sobre estes e o intento das empresas por controlar os dados já que estes poderiam ser “a principal fonte de vantagem competitiva” têm aumentado nos últimos tempos.
Hoje se vê claramente a participação dos usuários nos projetos como a Wikipedia, atualizando e melhorando os dados disponíveis nesse ambiente virtual. São essas as expectativas de interação que se tem para a próxima década.

4. O fim do ciclo de lançamentos de software
O software já não é apresentado como produto e sim como serviço. Tal aspecto é responsável por ocasionar mudanças nos modelos de negócios das companhias:
1- Sendo o software um serviço, há a necessidade de manutenção diária para continuar o seu funcionamento. Diariamente são desenvolvidos aplicativos para a construção de sistemas dinâmicos que requerem alteração constante.
2- Os usuários viram co-desenvolvedores, através do código aberto e sugerindo novos recursos no dia a dia. Para o desenvolvimento desses novos recursos é necessário saber quanto, quando, e como o usuário os utiliza.

5. Modelos leves de programação
Com a popularização dos serviços web, as grandes companhias desenvolveram complexos conjuntos de serviços web, buscando a criação de ambientes de programação confiáveis para os aplicativos que passaram a ser distribuídos. Esses serviços procuram simplicidade em sua utilização.
Nas “lições significativas” o autor ressalta a importância do emprego de modelos de programação simples com capacidade de serem acoplados, a sindicalização de dados para o exterior (a exemplo do RSS), a utilização de códigos abertos e a utilização de aplicativos.

- Inovação na montagem
A web 2.0 tem a mentalidade da reutilização, ou seja, melhorar um serviço anterior ou juntar dois para gerar outro melhor. Através da interação das companhias é possível o aproveitamento de serviços existentes com outros, gerando assim melhores resultados.

6. Software em mais de um dispositivo
A web 2.0 na se limita à plataforma de PC. A plataforma da web entende â idéia de aplicativos sintéticos compostos de serviços compartilhados por vários computadores. A web 2.0 é a realização do desenvolvimento potencial da plataforma web. Inclui o acesso a dispositivos portáteis (a exemplo do iPod/iTunes), possibilitando o gerenciamento dos dados desde a web, integrando os dois sistemas. É esta a área da web 2.0 onde se espera inovações com o aumento dos dispositivos conectados â plataforma.

7. Experiência rica do usuário
Surgem vários aplicativos da web que se “complementam”, proporcionando uma rica experiência ao usuário. Como exemplo, o lançamento do Gmail e do GoogleMaps pela Google. E, para os próximos anos, espera-se o desenvolvimento de muitos novos aplicativos web com essas características.

Acreditamos que a utilização da web 2.0 é uma importante ferramenta para o relacionamento. Seja ela entre empresas e clientes, assim como entre clientes e quaisquer pessoas. A troca de informações, a participação em diversos espaços da plataforma, as redes sociais e o constante desenvolvimento da rede são características que propiciam essa prática.

[1] É o fundador da O’Reilly Media, editora americana de livros também responsável pelo densenvolvimento de sites e organização de congressos. Seus trabalhos estão voltados à área da computação. Fonte: Wikipedia.

Rommy Krauss e Tatiâne Schmitt

quarta-feira, 24 de junho de 2009

INTERAÇÕES MEDIADAS PELO COMPUTADOR E REDES SOCIAIS

Thompson divide as interações humanas em 3 categorias: face a face, mediada e quase mediada. Vamos definir brevemente cada uma delas dentro dos conceitos do autor:

Face a face: É a interação entre duas pessoas que necessariamente encontram-se no mesmo lugar e prestam atenção uma a outra. Uma característica específica desse tipo de interação é a linguagem corporal (olhares, expressões, gestos) que atribuem significado na conversação, ajudando inclusive na compreensão. Ela é obrigatoriamente dialógica, para manter a interação e não ser apenas uma relação de ação-reação. A orientação é de um para outro.

Mediada: Uma das características fundamentais é que as pessoas não se encontram no mesmo local, portanto, dependem de um meio para que a comunicação aconteça. Meios como telefones, cartas, computadores. E a linguagem corporal da interação face a face é substituída pelos emoticons no caso da linguagem escrita. Essas expressões são limitadas e podem comprometer a compreensão da conversa.

Um caso específico é o da vídeo-conferência, (ou equivalentes) onde poderia se pensar que seria uma interação face a face, e não mediada, o que seria um engano. A justificativa relaciona-se com os planos de fundo. A vídeo-conferência limita-se a mostrar o indivíduo, excluindo o próprio cenário e comprometendo o contexto que se faz na interação face a face. O plano de fundo é manipulado.

Quase Mediada: O exemplo mais fácil é o Jornal Nacional. Ocorre a total separação de contextos. Uma pessoa não sabe o que a outra está fazendo (apresentador, no caso, não sabe o que o expectador faz) e nem interage com ela. Não há diálogo nem troca de informações, apenas a recepção dela.

Com o surgimento da internet, e novas tecnologias integradas a ela, novos estudos foram feitos. De acordo com André Lemos (2002), a internet permite uma interação todos-todos. Ele traz novas categorias de interação:

Mecânico – Analógica: É a interação baseada na ação reação com máquinas. É o caso das máquinas de refrigerante, onde se aperta o botão e a máquina dá o refrigerante. Ou em vídeo-games mais antigos, onde um comando no controle faz o personagem na tela ter uma reação.

Eletrônico-Digital: São as interações onde o expectador tem certo controle sobre o conteúdo do programa, por exemplo. São exemplos: o programa da Rede Globo Você Decide, O Big Brother, American Idol etc... Ainda não há total interação nem troca de informação.

Social: É o caso da televisão digital ou das redes sociais como o Orkut e o MySpace. Permite a interação e o controle da programação. É possível conversar pela televisão. Há a interação entre os agentes do meio. É importante ressaltar que no modelo de televisão digital que ocorre no Brasil isso não é possível.


REDES SOCIAIS

Alex Primo divide os tipos de interação em duas categorias: Interação Mútua e Interação Reativa.

Interação Mútua: Troca de informação entre os agente
Interação Reativa: Com a máquina

Conceito de redes sociais de acordo com o Wikipédia:

Rede Social é uma das formas de representação dos relacionamentos afetivos ou profissionais dos seres entre si ou entre seus agrupamentos de interesses mútuos. A rede é responsável pelo compartilhamento de idéias entre pessoas que possuem interesses e objetivo em comum e também valores a serem compartilhados

No caso que vamos tratar serão máquinas ligadas em máquinas conectando pessoas. Os atores serão as pessoas e as conexões serão os tipos de interação na rede.

Análise de Redes Sociais:

  • Organização – Trata das conexões/interações

Um exemplo são as comunidades. Proporcionam os tipos de interação, mútua e reativa. Há possibilidade de troca de informação (posts, comentários, recados) o que a torna mútua. E também pode apresentar enquetes, que são reativas.


  • Estrutura – Laços Sociais

Há dois tipos: laços relacionais, e laços associativos.

Laços relacionais: Conversa por scraps, por exemplo. Então, relação mútua, obrigatoriamente.

Laços associativos: Como o segundo elo em uma corrente unido os da ponta. Exemplo: A é amigo de B e C no Orkut, mas B não é amigo de C, portanto, tem um laço associativo. Ou estão na mesma comunidade mas não são amigos.


Laços Fortes: Amigo-amigo. Próximos.

Laços Fracos: Associativos.

Laços associativos são sempre fracos, mas podem ser fortes. Não exigem troca e são reativos. Já os laços relacionais são sempre fortes e exigem troca, são mútuos.

Os laços fracos têm uma grande importância para a rede, por provocarem sua expansão. Por exemplo: A tem laços com B. B tem laços com C. A se interessa em C e por B cria um laço fraco com C. Outro exemplo que é recorrente na nossa faculdade é da comunidade criada no início dos semestres com os “bixos”. Os membros não se conhecem pessoalmente (em geral), mas fazem parte daquela comunidade, criando laços fracos.


Capital Social

Para compreender o conceito, vamos usar mais uma vez o Orkut como exemplo. As pessoas estão em comunidades que as definem: seus gostos, preferências, opiniões. Por exemplo: a comunidade da UFRGS traz um certo status para seus membros. Comunidades de bandas mostram que tipo de música a pessoa escuta, e pode até mesmo definir seu estilo.

Curiosidade: alguns RHs procuram páginas de seus funcionários no Orkut para definir seu perfil através das comunidades.


Postado por: Gilles Saraiva, Turma B; Juliana Teixeira, Turma A

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Redes Sociais- conceitos retirados do livro Redes Sociais de Raquel Recuerdo, págs 14- 44.

O que é uma rede social? A rede social acontece quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e organizações. Essas redes surgiram graças ao advento das novas tecnologias que permitiram a ampliação da capacidade de conexão e com isso interligar as pessoas através de computadores, por essa razão as redes sociais são sempre mediadas por um computador.
Como são estruturados os estudos sobre redes sociais? Os estudos são estruturados através da Teoria Geral dos Sistemas, essa teoria prega em linhas gerais que devemos estudar os fenômenos não a partir de suas partes, mas sim a partir de suas partes em interação. Ou seja, é importante saber como o fenômeno interage com o ambiente que o circunda. Os estudos das redes primeiramente foram iniciados por matemáticos e depois adotados por diversos ramos das ciências sociais. Por essa concepção de estudo ao se analisar uma rede social é possível analisar: a criação das estruturas sociais, a criação do capital social, as funções das estruturas e as diferenças entre variados grupos.
A grande mudança nos estudos de rede social aconteceu com o advento da internet, pois ela oferece a possibilidade de expressão e sociabilização através de ferramentas de comunicação mediada pelo computador. Com isso as pessoas começaram a interagir e comunicar-se com outras pessoas e também deixar rastros de suas interações na rede.
Como é definida uma rede social? Uma rede social é definida por um conjunto de dois elementos: Atores ( pessoas, instituiçoes, ou grupos) e as Conexões (interações ou laços socias).
- Os Atores: São o primeiro elemento da rede social representado pelos nós. Eles moldam as estruturas sociais através da interação e constituição de laços sociais. Por estarem mediados pelos computadores os atores de uma rede social são, na verdade, representações de atores. Por esse motivo um blog, ou um perfil no orkut pode representar um ator em uma rede social. Essas representações estão sempre em processo permanente de construção e expressão da identidade do ator no ciberespaço. Por exemplo, o perfil no orkut sempre está passível a uma nova atualização.
- Conexões: São formadas pelos laços sociais que por sua vez são formados através da interação social entre os atores. A conexão se divide em 3 elementos: interação, relação e laços sociais.
- Interação: É a matéria-prima das relações e laços sociais. É também uma ação que depende da reação do outro ator. A interação ideal será obtida quando há uma reciprocidade de satisfação entre os atores envolvidos. A interação sempre será um processo comunicacional. As interações são construídas através da mediação do computador, por isso os atores não se conhecem pessoalmente. Existem dois tipos de interações: as síncronas e as assíncronas. A interação síncrona ocorre em tempo real, ou seja , o ator não necessita de tempo de resposta. Sua mensagem é enviada e respondida ao mesmo tempo como se simulasse uma conversa, por exemplo, MSN. Já na interação assíncrona o tempo de resposta não é imediato, por uma série de fatores é esperado que a resposta da mensagem do ator demore um tempo para ser respondida, por exemplo, e-mail.
- Relações: São constituídas pelo conjunto das interações. São regularidades ou padrões das mesmas. É esse padrão que define uma relação social. No caso das relaçoes mediadas pelo computador tendem a ser mais variadas, pois há trocas de diferentes tipos de informação.
- Laço: É a efetiva conexão entre os atores que estão envolvidos nas interações. Ele é a sedimentação das relaçoes entre os atores. Ou seja, os autores tem um contato mais frequente, maior proximidade, uma troca maior do fluxo de informação entre eles. Esse tipo de laço é caracterizado como laço relacional, pois leva em consideração as relações que formam o mesmo. Existe também um outro tipo de laço denominado laço por associação que é caracterizado pela conexão de um ator com uma instituição ou grupo. Esse laço remete a idéia de pertencer a um grupo, ou fazer parte dele. Há também um outro tipo de divisão dos laços: os fortes e os fracos. Um laço forte é caracterizado pela proximidade e intencionalidade da conexão entre duas pessoas. Já os laços fracos se caracterizam por serem dispersos, ou seja, não há uma intimidade entre as pessoas. Os laços fracos são a estrutura das redes sociais, pois através deles que são conectados os grupos que possuem laços fortes. Quanto maior o número de laços sociais na rede, maior a densidade dela, pois mais conectados estão os inidvíduos que fazem parte dela.

domingo, 14 de junho de 2009

A Arte no Mundo Digital

A arte reflete o imaginário e o contexto de sua época. Em cada período da história , os artistas produzem suas obras através dos meios e das técnicas que pertencem ao seu tempo. No contexto da pós-modernidade, a tecnologia digital traz possibilidades novas e radicais para se fazer e se sentir a arte.

Na civilização do virtual as imagens são geradas artificialmente, a partir de processos matemáticos, que dão origem a matrizes numéricas e essas, por sua vez, são traduzidas, resultando nos pixels que tornam o objeto visível numa tela de computador. As imagens de síntese (numéricas, digitais), não tratam mais de representar o mundo, mas de simulá-lo.

Segundo André Lemos, em seu livro Cibercultura, Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea, “a arte eletrônica contemporânea toca o cerne desta civilização: a desmaterialização do mundo pelas tecnologias do virtual, a interatividade e as possibilidades hipertextuais, a circulação (virótica) de informações por redes planetárias. A arte entra no processo global de virtualização do mundo.” ( LEMOS, 2002, p. 192-193)

A utilização das novas tecnologias pela arte resulta na ciberarte, cujos exemplos importantes são a vídeo-arte, o multimídia, a robótica, a arte halográfica e informática (imagens de síntese, poesias visuais, internet e suas home pages, exposições virtuais), a realidade virtual, a música tecno-eletrônica. Todas estas manifestações refletem o caráter instantâneo (tempo real) e interativo que a ciberarte possui, quebrando a fronteira entre produtor, consumidor e editor.

Maurício Liesen, no artigo Navegando na ciberarte: notas sobre arte e imaginário na contemporaneidade ( disponível no site www.cchla.ufpb.br/caos/mauricioliesen.pdf) afirma que:

A ciberarte é, pois, uma arte da comunicação, um evento dialógico que acontece apenas com a participação do espectador(...)O espectador perde sua passividade.Nesse momento, o autor cede espaço a vários co-autores que desencadeiam outras possibilidades de direções durante a experiência. E todas essas informações podem ser manipuladas ou acessadas, existindo potencialmente em um mundo virtual. ( LIESEN, 2005, p.81)

Ainda segundo Mauricío Liesen, a ciberarte é “uma arte que humaniza as tecnologias e nos convida a fazer parte de sua própria criação.”

Por Patrícia Strack e Rafaela Duarte.

sábado, 13 de junho de 2009

Ciberarte

Ciberarte


A arte exprime sempre o imaginário de sua época”, afirma André Lemos na primeira frase do texto a respeito da Ciberarte, presente em seu livro “Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea”. Evocando os diversos tipos de arte, encontramos essa relação em um exemplo muito próximo de nós brasileiros: a nossa Literatura.

Dividida em enumeras escolas literárias, se as justapormos em uma linha temporal observaremos não apenas a forte relação de sua temática e estética com o momento histórico, como também o contraste entre suas prioridades. O real, o fato, o técnico versus o imaginário, o ideal, o rebuscado, diversas dicotomias que se repetem alternadamente.

Da mesma forma, André Lemos nos apresenta o contraste de interesses de pensamentos artísticos muito mais amplos, atendo-se principalmente nas relações entre o Modernismo e o Pós-Modernismo. Entre racional, funcional, útil e a experimentalidade.

Se o primeiro é baseado numa forte questão racional, que obriga a arte a alinhar-se a funcionalidade tornando, segundo a filosofia de Descartes, marginais a imaginação e a simbologia no que tange “a construção do ato cognitivo verdadeiro”. O segundo é marcado principalmente pela experimentalidade, pela estética anárquica que todo o aparato tecnológico da época permitia; assim como pela tentativa de desconstrução da fronteira entre a cultura alta e a popular.

E nada mais óbvio do que aproximar culturas valendo-se da comunicação (palavra cuja origem está no tornar comum a todos), comunicação essa que passava a sofrer grandes inovações tecnológicas. Tecnologia essa que causa a desnaturalização da arte, pois se antes a arte analógica representava/imitava o natural, agora a arte tecnológica passa a simular através de modelo matemático o objeto real, criando que chama de “imagens de síntese”. Com isso, supera-se o paradigma fotográfico da imagem e dá-se início ao paradigma pós-fotográfico, sendo este mais apropriado a toda a nova filosofia da arte eletrônica que visa à circulação de informações, a tradução do mundo em bits agora possibilitados pela digitalização.

Entretanto, existe ainda outro ponto muito importante para essa nova arte, a questão da interação e da hibridização. No texto o autor cita a criação do “Hole in Space”, que é algo consideravelmente simples e banal nos dias atuais, mas um grande salto no que diz respeito a interação para a época.

A experiência consistia em ligas duas cidades (L.A. e N.Y.) por um sistema de satélites usando câmeras e monitores, como naquelas vitrines que aparecem nos filmes com várias televisões, que transmitiam informações de uma cidade para a outra. Assim, naquele instante, duas cidades que estavam a quilômetros de distância, passavam a coexistir espacialmente através daquela janela tecnológica. Segundo Lemos, “a experiência propõe um espaço híbrido eletrônico sendo, talvez, a primeira metáfora artística do ciberespaço”.

E essa questão do híbrido parece ser tão importante que ainda hoje é algo buscado pelos desenvolvedores de tecnologias. Desde o Nintendo Wii com os seus sensores de movimento, o cinema estereoscópico 3D desenvolvido pela DreamWorks, até a nova técnica chamada de “Realidade Ampliada”, sendo está atualmente a que melhor desenvolve a criação de um espaço híbrido entre os objetos reais e seus modelos expandidos matemáticos permitindo a interação.

O Jornal da Globo fez recentemente uma matéria que explica muito bem a Realidade Ampliada:

http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1191839-16021,00-O+JORNAL+DA+GLOBO+AUMENTOU+A+REALIDADE.html

Simplificando e resumindo, é uma técnica na qual uma câmera capta a imagem de um objeto aparentemente simples e amplia as qualidades do objeto na imagem, gerando uma interatividade até então impossível com o real e até mesmo impossível com o virtual.

Enfim, valendo-se das mais avançadas tecnologias, a Ciberarte vem para exprimir o imaginário de nossa época, na qual a simples contemplação não basta frente à interação, na qual em nome dessa mesma interação o real e o natural passam a ter um destaque muito menor frente ao seu modelo matemático. Uma arte que nasce, vive e se reconstrói em um espaço “aberto, interativo e não hierarquizado”, portanto, livre; muito diferente da Arte Moderna presa e submetida às regras funcionais.

Ps.: Caso queiram experimentar a realidade aumentada, o Jornal da Globo deixou disponível em seu site a tecnologia. É necessário ter uma webcam.

http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,JZ0-16009,00.html


Por Rafael Ferreira e Eduardo Osorio

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mais sobre a aula de 24 de abril

Cabe aqui postar um pouco mais sobre a aula do dia 24. O professor Gilberto Consoni abordou, ainda que rapidamente e em "off", sobre a importância da boa utilização das palavras nas publicações na Internet. Utilização de palavras chave e metatags, criteriosamente pensadas, e suas combinações, podem ser determinantes para uma correta visibilidade na rede. Um título adequado será garantia de retorno nas pesquisas sobre determinado assunto. Pensa sobre isso!

Foi falado também sobre a evolução dos navegadores web, desde o Mosaic (tornado gratuito em 1993), que evoluiu para o Netscape Navigator, passou pela descoberta da Internet pela Microsoft com seu Internet Explorer em 1995, a criação de aplicativos Java (que ampliou ainda mais a aplicatividade da rede). Atualmente temos uma boa variedade de navegadores, com o Internet Explorer, o Mozilla Firefox, o Safari, o Konqueror, Opera, Google Chrome, Floc, entre muitos outros. Se quiser saber mais sobre navegadores web, clique AQUI.

A Galáxia Internet :Lições de História da Internet

Na aula do dia 24 de abril foi discutida a história da internet, a evolução das tecnologias e a formação das redes de computadores. Como suporte e guia, foi utilizado o primeiro capítulo do livro “A GALÁXIA INTERNET: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade”, intitulado “Lições de História da Internet”, de autoria de Manuel Castells.

Antes de mais nada, ao estudo não se faz necessária uma explicação passo a passo do desenvolvimento da tecnologia, e o próprio autor confessa que não pretende relatar a história pormenorizada da evolução tecnológica. É preferível, sim, direcionar a leitura histórica a fim de explorar os momentos e os processos chave para a formação das redes de computadores. Para tanto, Castells decide retratar o processo de expansão dessas redes, que surgem como redes internas, com número de computadores e acesso limitado, e acabam por se transformar em uma rede mundial, com uma quantidade massiva de usuários.

Como ponto inicial, o autor destaca a criação da rede ARPANET. Sob o domínio da ARPA (Advanced Research Projects Agency), a elaboração da ARPANET era fruto de uma política de pesquisa que procurava criar uma rede interativa de informática. A princípio, essa rede seria usada para fins militares, com o objetivo último de tornar os EUA tecnologicamente superiores à União Soviética. Contudo, mesmo sob o controle militar, essa rede foi desenvolvida por uma corporação independente - que já colaborava com o Pentágono – e, mais tarde, pelas universidades estadunidenses, criando assim uma situação ambígua, em que ao mesmo tempo em que a criação da rede era motivada pelo belicismo e pela Guerra Fria, a mentalidade universitária desenvolvia essa pesquisa para outros fins – finalidades essas até mesmo desconhecidas e gratuitas.

Desenvolvida a ARPANET, novas redes puderam ser criadas mais facilmente. Nos anos 70, ao que duas outras redes internas foram criadas, a PRNET e a SATNET, os pesquisadores se depararam com um novo conceito, o da rede das redes, cuja lógica era ligar essas três nets independentes e ter a disponibilidade de uma rede mais extensa. Contudo, para elas três se comunicarem era preciso desenvolver uma linguagem em comum entre elas. Cria-se, então, o protocolo TCP (Transmission Control Protocol), que foi dividido posteriormente em um outro protocolo, o IP (Interenet-work Protocol), cuja função seria a de localizar e realizar a comunicação entre computadores de redes distintas. Em meados dos anos 70, a ARPANET passou a ser de controle da Defense Comunication Agency, sendo utilizada para interligar as divisões das forças armadas. Para proteger essa rede de invasões, o Departamento de Defesa cria a MIL-NET, o que fez com que a ARPANET se voltasse apenas à pesquisa novamente. Surge, então, já nos anos 90, a ARPA-INTERNET, concluindo o ciclo de desenvolvimento com motivação militar.

Um novo marco fundamental na história das redes é a abertura ao domínio público da tecnologia responsável pela criação de redes informáticas, que, com a ajuda da comercialização de computadores com entrada para rede, permitiu uma integração rápida entre PCs. Nesse ponto, uma observação importante deve ser feita: mesmo sendo privatizada e não estando sob domínio do corpo estatal, a integração de TCP/IP foi financiada pelo Departamento de Defesa. É notável que empresas privadas se negaram investir em tais pesquisas tecnológicas por desconhecimento das possibilidades que a internet traria. De fato, essa rede de computadores não tinha outra finalidade a não ser facilitar qualquer procedimento interno, e pode-se arriscar afirmar que mesmo quem a desenvolvia o fazia por mera curiosidade. Dessa forma, a iniciativa privada teve um papel muito menor do que o aparato estatal para o desenvolvimento da rede informática, e coube a indivíduos autônomos a função de dar alguma função à rede.

A partir dos anos 80, por fim, foram os softwares desenvolvidos por universitários que garantiram a criação da internet como a conhecemos hoje. Tais softwares eram voltados para o compartilhamento e a integração fácil entre computadores pessoais, estabelecendo, assim, uma nova filosofia científica, que busca inovações técnicas a partir da troca de informações – troca essa aberta e muitas vezes sem fins lucrativos.

A internet é produto de um relacionamento nunca antes visto entre Estado, iniciativa privada e universidades, em que cada elemento dessa cadeia agiu sem criar conflitos. O que fica claro em relação a isso é que essa “boa convivência” só foi possível porque nenhum dos integrantes se pretendia dono do projeto. O aparelho estatal largou a internet quando criou uma rede própria, segura de invasores. A iniciativa privada não adotou o projeto por não perceber qualquer possibilidade de retorno financeiro, apesar de disponibilizar computadores com conexão para rede. Aos universitários, essa nova ferramenta representou a chance de uma revolução individual, cujo desenvolvimento não estava detido a objetivos nacionais ou empresariais, motivado, fundamentalmente, pela curiosidade e pela espontaneidade.

Esse histórico imprimiu no DNA da internet uma cultura de liberdade, herdada da ética hacker em conceitos como copyleft e open source. “A cultura da liberdade individual que se gerou nos campus universitários nos anos 60 e 70, utilizou a ligação informática em rede para os seus próprios fins, na maior parte dos casos, procurando a inovação tecnológica pelo puro prazer de descobrir” (CASTELLS, 2004, p.41). O próprio conceito de rede descentralizada apoiava-se na idéia de autonomia e liberdade, e foi determinante na formação, aspecto e velocidade de propagação da Internet dos dias atuais. A distribuição aberta e gratuita de software e a partilha de recursos foram alguns dos principais responsáveis pela rápida difusão dos protocolos de comunicação entre computadores, além de estabelecerem o código de conduta dos primeiros hackers. O ambiente universitário onde se desenvolveu a ARPANET definiu muitos formatos presentes na internet até hoje. A necessidade de comprovar as primeiras decisões fez com que os primeiros desenvolvedores criassem uma “recolha de comentários” (ou “request for comments”, RFC) para divulgar e discutir os resultados de suas investigações.

Cabe aqui frisar que, apesar de, historicamente o mundo viver o advento da contracultura, com grandes manifestações antibelicistas, os pioneiros da internet não se incomodaram com o fato do Pentágono (organização militar por excelência) estar financiando essas pesquisas, provavelmente por estarem imersos e embriagados naquela “extraordinária aventura tecnológica”. “Sem dúvida, tinham presentes os valores da liberdade individual, do pensamento independente e da ideia de partilhar e cooperar com os seus companheiros, valores que distinguiram a cultura universitária nos anos 60. (...) Esta cultura estudantil tomou a ligação informática em rede como uma ferramenta de comunicação livre e (...) como uma ferramenta de libertação que, em conjunto com o PC, transmitiria a todos o poder da informação, para que se libertasse tanto dos governos como das empresas” (CASTELLS, 2004, p.42-43). Essa cultura libertária possibilitou o surgimento de diferentes redes alternativas que poderiam conectar-se à ARPANET, e consequentemente o desenvolvimento de diferentes usos para a rede.

A transparência característica da Internet, desde seu surgimento, foi viabilizada técnica e socialmente pela diversidade na sua constituição. Mas para que prosperasse como rede mundial seria necessário que o mundo adotasse os protocolos propostos e utilizados pela incipiente rede universitária estadunidense. O padrão europeu firmava-se no protocolo X.25, de controle e responsabilidade essencialmente públicos, em contraponto à ARPANET, que tinha como principal vantagem a flexibilidade porestar fundamentada na diversidade das redes. Essa característica foi fundamental para a predominância do protocolo adotado pela ARPANET, o TCP/IP, pois facilmente pode incorporar as redes baseadas no protocolo X.25, tornando-se assim o padrão, ou standard, para a rede global.

A arquitetura aberta adotada na formação da Internet é tão determinante na sua essência que permeia todos os aspectos da grande rede. Essa filosofia tem permitido um volume de produção e diversidade tecnológica impensável em um ambiente restritivo, com o surgimento de um incontável número de aplicações através da rede: correio eletrônico, chats, banners, e o hipertexto.

Um aspecto curioso apontado no texto de Castells diz respeito à forma “subversiva” sobre a qual a rede se desenvolveu. Diz o autor:

Ninguém disse a Tim Berners-Lee para desenhar a world wide web e este viu-se obrigado a esconder os seus verdadeiros objetivos por algum tempo, já que estava a usar suas horas de trabalho em algo para o qual não tinha sido contratado pelo centro que o empregara. Mas pôde fazê-lo porque contava com o amplo apoio da comunidade Internet, cujos membros apoiavam seu trabalho , que entretanto ia disponibilizando na rede, e estimulado por numerosos hackers em todo o mundo. (CASTELLS, 2004, p.46)

Apesar das ideias de Berners-Lee terem posteriormente sido comercializadas por hackers, ele foi fiel ao ideal hacker, sempre trabalhando pelo interesse público. Tim Berners-Lee agiu sempre como um legítimo hacker, ao lado de nomes como Ted Nelson, Douglas Engelbart, Richard Stallman, Linus Torvalds, entre muitos outros notórios e anônimos hackers responsáveis pelo advento da www.

Pela sua característica aberta, a Internet experimenta um desenvolvimento e crescimento sem precedentes na história da comunicação humana.

Os novos usos da tecnologia, assim como as modificações efetuadas nessa tecnologia, são transmitidas de regresso ao mundo inteiro, em tempo real. Assim, reduz-se extraordinariamente o lapso de tempo decorrido entre os processos de aprendizagem através do uso e a produção para o uso, tendo como resultado a entrada num processo de aprendizagem através da produção, num círculo virtuoso, que se estabelece entre a difusão da tecnologia e seu aperfeiçoamento. (CASTELLS, 2004, p.41)

Castells restringe esse fenômeno a três condições: i) a arquitetura em rede de caráter aberto, descentralizado, distribuído e multidirecional na sua interatividade; ii) todos os protocolos de comunicação abertos, livremente distribuídos e sucetíveis de alterações; e iii)instituições de gerência da rede constituídas pelos princípios de transparência e cooperação inerentes à Internet (2004, p.47).

A gestão da Internet tem seguido os princípios apontados (de transparência e cooperação), determinada pela história ética de seus co-fundadores. A privatização do controle da Internet foi planejada pela NSF desde 1992. Em janeiro daquele ano criou-se a Internet Society, organização sem fins lucrativos encarregada pela supervisão do Comitê de Atividades da Internet (em inglês IAB, Internet Activities Board) e do Grupo de Engenharia de Internet (IEFT, Internet Engeneering Task Force), comandadas pelos respeitados Cerf e Kahn. Seu compromisso com a abertura da rede, seus conhecimentos técnicos e, acima de tudo, sua capacidade de suscitar consensos estimulou a participação internacional na coordenação da Internet, ampliando consideravelmente o alcance da rede.

O controle dos domínios ficou delegada a Jon Postel, um dos fundadores originais da rede, responsável pela IANA (Internet Assigned Numbers Authotity). Inquestionavelmente íntegro, Postel geriu os domínios com justiça, sensatez e neutralidade, “com resultados notáveis quanto à relativa estabilidade e compatibilidade do sistema” (CASTELLS, 2004, p.49). Apesar de seu falecimento, aos 55 anos, em 1998, Postel ainda legou um eficiente projeto de privatização do sistema, com a criação do ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), desde o final daquele ano até hoje responsável pela gestão de domínios. Com princípios de participatividade, transparência e abertura, inerentes à Internet.

Para finalizar tomaremos a liberdade de reproduzir, quase na integralidade, o último parágrafo desse capítulo do livro de Castells, como segue:

[...] o que é surpreendente é que se tenha conseguido uma relativa estabilidade na gestão da Internet sem ter sucumbido, nem na burocracia do governo norte-americano nem no caos das sua estrutura descentralizada. Deve atribuir-se esse equilíbrio, fundamentalmente, à contribuição desses senhores da inovação tecnológica: Cerf, Kahn, Postel, Berners-Lee, e tantos outros, que se esforçaram realmente para conseguir que a Internet se mantivesse como uma rede aberta aos seus colegas, como meio para aprender e partilhar. Nesta concepção comunitária da tecnologia, a fidalguia meritocrática encontrou-se com a contracultura utópica na invenção da Internet, e na defesa do espírito de liberdade, que está na sua origem. A Internet é, antes de tudo, uma criação cultural. (CASTELLS, 2004, p.52)

Castells é um nome de referência quando o assunto é sociedade e tecnologia. Seu livro “A sociedade em rede”, primeira parte da trilogia “A era da informação”, lançado em 1996, já é um novo clássico da sociologia. “Lições de história da Internet” se mostra uma excelente introdução às teorias de Castells, pois faz um relato básico do desenvolvimento da internet, fazendo um recorte nos momentos que acabaram por dar origem à sociedade em rede.

P.S.: Posteriormente voltaremos a editar esse post, incorporando algumas imagens para deixar menos árido o texto.

domingo, 3 de maio de 2009

A GALÁXIA INTERNET



A GALÁXIA INTERNET

Reflexões sobre internet, Negócios e Sociedade


            Na nossa última aula (24/04) demos continuidade ao aprendizado sobre Cibercultura, o enfoque da aula era a internet e o seu histórico com base no texto de Manuel Castells, “A Galáxia Internet”. Como é um texto basicamente histórico, optei por tornar a resenha mais próxima de um resumo, acrescentando minha interpretação e comentários. Acredito que dessa maneira a construção dessa atividade seja mais proveitosa para todos.

Lições de História da Internet

           Nesse breve introdução o autor mostra-se empolgado com o desenvolvimento da internet, dizendo que várias regras foram quebradas, valores pré-estabelecidos subvertidos na criação do “novo mundo”.

“Serve também para reafirmar a idéia de que a cooperação e a liberdade de informação podem favorecer mais a inovação do que a concorrência e os direitos de propriedade. (...)” (pág. 25).

             Essa já é uma das novidades que a Internet apresenta a todos, pois na nossa sociedade o comum era (ainda é) que equipes, grupos, empresas, países rivais trabalhassem sem trocar informação algum, sem compartilhar qualquer coisa. Ao contrário da internet que muitas vezes programas correlacionados eram divulgados com seu código fonte aberto.

A História da Internet, 1962-1995: uma visão panorâmica

             As origens da Internet remotam da ARPANET, uma rede de computadores criada pela ARPA que, por sua vez, foi criada pelo departamento de defasa dos EUA, em 1958, com objetivos de superar a antiga URSS em tecnologia militar. Mas não era só isso, a construção da ARPANET justificava-se pela necessidade de um meio de repartir o tempo de trabalho on-line dos computadores entre vários centros de informática. Além disso, o desenho dessa rede teria de ser compatível com a proposta de comunicações flexíveis e descentralizada (de uso militar) capaz de sobreviver a um ataque nuclear.

            O objetivo seguinte era conseguir a ligação da ARPANET com outros sistemas em rede que a ARPA estava criando (PRNENT e SATNET). Para se conseguir isso seria necessário constituir um protocolo padronizado para fazer essas ligações. TCP/IP. O departamento de defesa preocupado com possíveis invasões/violações desenvolve o seu próprio sistema, o MIL-NET. Dessa maneira, a ARPANET não é mais interessante para os militares. Em 1990 ela é desmontada por ser considerada obsoleta.

            A tecnologia para a criação de redes de informática públicas estava aberta para o domínio público. No entanto, o departamento de defesa comercializa a tecnologia da internet. Provedores de internet constroem redes próprias de ligação para acesso (gateways).

            Mas houve outros fatores que construíram a internet como conhecemos hoje, por exemplo: o sistema UNIX ter seu código fonte aberto para o desenvolvimento (além de ser um sistema difuso entre os universitários), criação do conceito copyleft.

          O sistema operacional LINUX tem início nesse mesmo sentido. Com base no código-aberto do UNIX, um estudante o fez e o distribuiu na internet para que fosse evoluído e aperfeiçoado pela comunidade de hackers e usuários.

            A internet só atingiu todo esse tamanho graças a “world wide web”. Essa foi desenvolvida em meados de 1990 com o intuito da troca de informações em um sistema interativo de computação. Próximo a idéia do “Xanadú”: 

“Ted Nelson (...) trabalhou durante muitos anos na criação de um sistema utópico chamado Xandú: um hipertexto aberto e auto-evolutivo que tinha como objetivo ligar toda a informação passada, presente e futura, existente em todo o planeta (...)” (pág. 31 e 32).

             Acredito que a Internet que conhecemos hoje funcione como essa enorme “enciclopédia” on-line, aliás, a Wikipédia se encaixa completamente nesse objetivo. Com hiper-links que correlacionam às informações, além de ser uma fonte de conhecimento construída em conjunto. 

Uma fórmula insólita: ciência, a investigação militar e a cultura da liberdade

             A internet nasceu em um ponto de convergência entre a pesquisa militar, ciência e uma cultura libertária (liberdade individual). A questão interessante dessa situação era que os militares norte-americanos não tinham completa certeza do que seria, para o que servia essa rede.

            Certamente, a intenção de “sobrevivência militar” foi concluída. O resto de seu desenvolvimento tinha muita liberdade. O departamento de defesa deu liberdade para a ARPA administrar as pesquisas e essa, por sua vez, deu liberdade aos seus pesquisadores. Os pesquisadores construíram a rede experimental sem fins militares. Na hora da “prestação de contas”, os membros do congresso nunca entenderam o que era exatamente a ARPANET.

            Toda essa liberdade nas pesquisas permitiu que os EUA atingissem no início dos anos 80 a superioridade em eletrônica e comunicação em relação a sua rival: URSS.  A União Soviética tinha um sistema fechado de pesquisa, sem espaço público, somente militar.

            No entanto, precisamos ressaltar que somente com o apóio do financiamento público-militar é que a internet se tornou o que conhecemos hoje. No seu desenvolvimento, as grandes empresas privadas não se mostraram interesse – mesmo quando o governo tentou privatizar. A dependência pela tecnologia analógica e o medo de investir uma grande soma em um projeto incerto falaram mais alto. Para a nossa sorte.

 A Internet e as culturas alternativas

             Ao contrário do que se poderíamos pensar, esses cientistas e centros universitários não eram hippies que queriam liberdade, paz, etc. Na verdade, eles buscavam uma abertura da rede, conhecimento sendo difundido, entretanto não se importavam de trabalhar para o mesmo governo que estava na guerra do Vietnã.

            Nasce aí a conduta dos primeiros Hackers, a distribuição de protocolos e softwares gratuitamente contribuiu para o rápido desenvolvimento da internet, pois o pensamento de partilhar e cooperar com seus companheiros estavam presentes.

 Internet: uma arquitetura aberta

             A internet sempre teve a característica da transparência, tanto na arquitetura como na sua organização institucional. Com os códigos fontes abertos e com o desenvolvimento abertos dos protocolos, permitiu que a internet sobrevivesse (e contribuísse) ao processo de globalização: a questão central era a padronização de um modelo internacional.

Enquanto a Europa gostaria que o modelo mudasse e passasse para o filtro de seus próprios governos, os protocolos da ARPANET estavam fundamentados nas diversidades das redes. No final, os standards TCP/IP adaptaram os protocolos da base X.25 – europeu.

A auto-evolução da Internet: a configuração da rede pela utilização

           A internet tem sua força devido ao seu caráter aberto, essa tendência de liberação também é sua fonte de alimentação. A sua evolução está nessa “auto-alimentação”, pois – não seria diferente do resto da história – primeiro se cria uma necessidade ou se observa ela, a partir de então se começa a produzir.

          Como a internet é aberta, os próprios utilizadores se convertem, então, nesses produtores e configuradores. Para que essa evolução aconteça, deve-se cumprir três condições:

- Arquitetura aberta, descentralizada e multidirecional;
- Protocolos abertos e distribuídos livremente;
- As instituições devem gerir a rede de fora transparente e em cooperação.

A gestão da Internet

          Nesta parte, o texto demonstra estar desatualizado, aliás, acredito que o texto seja de 2002. Um dos conflitos levantados pelo texto é sobre a gestão de domínios, da Internet.

       A ICANN faz a gestão de endereços, domínios, parâmetros dos protocolos. “O conflito era sobre a questão da criação do domínio “.eu” (união européia) ter sido negada pela ICANN. No entanto essa questão já foi resolvida em 2002 (http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/l24228.htm) com criação definitiva desse domínio. 


Vídeos Recomendados:

 O Fenômeno da Internet:
http://www.youtube.com/watch?v=b1A9lYC3g-0
           uma matéria da época que a Internet estava se popularizando

 Para entender Bill Gates e Steve Jobs nos dias de hoje:

http://www.youtube.com/watch?v=G4LNA6VCipg&feature=PlayList&p=8773FD79FDA8321E&playnext=1&playnext_from=PL&index=36

+++ PLUS +++

Meu vídeo favorito da Internet:
http://www.youtube.com/watch?v=pFlcqWQVVuU

A Versão 2 do meu vídeo favorito da Internet:
http://www.youtube.com/watch?v=nBEyFeMV2_c&feature=related

O Mário não é mais aquele que você conheceu:
http://www.youtube.com/watch?v=JpBGRA6HHtY



Autor da Resenha: Rodrigo Olsson

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Tribos


Tribos


- Segundo Maffesoli, dentro de uma sociedade, o profundo pode estar na superfície das coisas. Dessa forma, é através da aparência que diversas tribos unem-se. Ela é um vetor de agregação. A estética é uma forma simples de experimentar, sentir-se comum e, dessa forma, reconhecer-se. Por isso, a maioria das tribos é reconhecida basicamente pela forma que estruturam seu visual. Para o autor, essa ‘teatralidade’ instaura e reafirma a comunidade, todos são, ao mesmo tempo, atores e espectadores.

Nos últimos anos, uma tribo difundiu avassaladoramente suas características visuais. Os “emos” são facilmente reconhecidos. A tribo que teve origem em um gênero musical oriundo do hardcore - emo é abreviação do inglês emocional - com músicas que exageravam no lirismo. A criação e evolução do termo passa por diversas fases e controvérsias. Hoje, os adolescentes que se intitulam “emo” usam roupas pretas, listradas ou neon. Gostam de estampas infantis, cabelos coloridos e tradicionalmente utilizam uma longa franja sob o rosto. Meninos e meninas pintam os olhos com lápis preto de forma marcante. São considerados emotivos e sensíveis.




- Há na sociedade, de acordo com o autor uma propensão ao agrupamento. É fato que a comunicação é de grande importância na formação dos grupos. Pensava-se, no entanto, que apenas a comunicação verbalizada servia de mote para a reunião de pessoas com interesses comuns. Cada dia mais, essa idéia é descaracterizada. Há diversas situações “silenciosas” que estão profundamente estruturadas nos hábitos de vida das pessoas. A arquitetura, o ruído e a música, a linguagem corporal, as artes visuais, o teatro, a dança e o grafismo são bons exemplos do uso máximo da linguagem não verbal. Há uma tribo que encaixa-se muito bem nesse aspecto. Embora haja outras características que os unam, o que é comum, a tribo da dança tem um forte elo com a comunicação não verbal. Antes de tudo, os bailarinos são unidos pela paixão por dançar, independente de ritmo. É claro que há subdivisões dentro do gênero. A tribo se divide em tribos menores de acordo com o ritmo e o estilo utilizado. O elo, entretanto, sempre será o movimento, o dançar, grande expressão de linguagem na verbalizada.




- O “estar junto” é vital para uma tribo. O texto ressalta a importância da consciência coletiva ou de momentos específicos. É através de “ações comuns” como festas, eventos, viagens, encontros onde a sociedade fortalece o sentimento que tem de si mesma. A perspectiva de comunidade, na idéia do autor ultrapassa os limites dos utilitário, funcional ou econômico. A convivência, então, surge como grande trunfo. Um bom exemplo é a divisão de casas noturnas de acordo com a preferência musical dos grupos. Há aquelas onde só se ouve pagode, rock, eletrônica, samba, enfim... Os freqüentadores podem não pertencer a tribo, no entanto, sabem que estão indo até o nicho de determinada tribo e, assim, o que vão encontrar lá. Os roqueiros encaixam-se exatamente nessa situação. Freqüentam apenas locais onde escutam seu estilo musical preferido, o que fortalece a comunidade. As chamadas “ações comuns” reafirmam as tribos e seus membros.




- A socialidade se expressa das mais diversas formas e em momentos distintos. No momento de sua fundação ou quando quer estreitar os laços é particularmente intimista. Uma técnica considerada no texto “simbólica” ou um quase como um sacramento, a refeição pode ser um momento de reforçar alianças. Da eucaristia aos banquetes políticos, passando pelas modernas refeições-reunião, o momento de comer pode estruturar uma tribo. É nele que, além de se selar alianças, pode-se atenuar oposições ou restaurar amizades, por exemplo. Há tribos, inclusive, que só existem por culpa das refeições. É o caso da tribo dos vegetarianos. Aqueles que não comem carnes hoje constituem um conhecido grupo. Alguns optam pelo vegetarianismo por acreditarem que os animais não precisam ser mortos para que os seres humanos se alimentem. Outros apenas acreditam que o consumo exagerado de carne - vermelha ou em alguns casos também a branca - não é vital ou necessário para a saúde do corpo. Independente da justificativa, o que os une é o fato de optarem por uma alimentação recheada de legumes, frutas e verduras em substituição das carnes em suas refeições.




- Desde muito tempo, sabe-se da importância da linguagem verbal – que surge quando o homem utiliza a palavra, seja essa oral ou escrita - para criar a rede que liga os indivíduos entre si, gerando uma tribo. Cada grupo possui um tipo de fala, com gírias, sotaques, estilos e ritmos diferentes, que os caracterizam e permitem a sua identificação. Os mais jovens possuem em seu vocabulário gírias que os mais velhos costumam não entender, como ficar ou balada. A linguagem verbal também diferencia as pessoas das cinco regiões do Brasil, principalmente através do sotaque. Além disso, muitas palavras presentes no cotidiano gaúcho, não serão compreendidas por um Baiano, por exemplo: termos como cacetinho, cujo significado é pão francês; pechada como sinônimo de choque entre carros; borracho como bêbado; peleia como briga, etc.




- O autor concede uma importância bastante grande para a questão do segredo dentro das tribos. Ele coloca essa característica como base para confirmar e reforçar a solidariedade fundamental, toda vez que é necessário restaurar a ordem das coisas. Na verdade, esse seria um aspecto fundamental para que um grupo se desenvolva de forma autônoma, pois favorece a auto-conservação. O segredo funciona como uma proteção contra a imposição de fora, para que assim as pessoas possam “estar-junto”, ou seja, possam compartilhar um ideal, um hábito. Essa partilha secreta entre os membros de uma tribo faz com que elas resistam às tentativas de uniformização. As sociedades secretas utilizam essa característica de uma maneira radical. O fato de elas serem secretas conferia a todos os membros o poder do mistério sobre o resto da povo, o que explica o fascínio que as pessoas costumam possuir em relação a elas. Pode-se citar como exemplo a Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis (AMORC), fraternidade sem distinção de crença, raça, ou sexo, não religiosa, não dogmática e apartidária. O seu objetivo é o estudo das leis místicas universais, e sua origem oficial teria acontecido em 1350 a.C., com o faraó Tutmés III, da XVIII dinastia.




- Como um aspecto negativo das tribos, o autor ressalta o fato de que uma pessoa, dentro de um grupo isolado, pode acabar aceitando a verdade da sua tribo como única, surgindo assim o preconceito e o racismo. O espírito desse membro não estará aberto a compreender costumes, crenças e características diferentes. Os chamados white power, tribo originada da cultura skinhead, são defensores da ideologia neo-nazista e racista. A banda anti-semita Skrewdriver foi a origem do movimento que promove espancamentos de asiáticos, principalmente paquistaneses. O grupo utiliza o nacionalismo xenofóbico para organizar pessoas em torno de um ideal branco-separatista.




- Maffesoli afirma que cada grande ruptura na história da humanidade (como guerras, surgimento de novos impérios, revoluções, etc.) traz junto de si uma multiplicação de estilos de vida. Cada nova etapa da história vai gerar necessidades e costumes próprios, pois elas rompem com o que é comumente admitido como verdadeiro e correto. Segundo o autor, elas podem ser “efervescentes, ascéticos, voltados para o passado ou para o futuro”. A Revolução Industrial na Inglaterra, em meados do século XVIII, fez com que a classe dos operários surgisse, pois as fábricas estavam sendo construídas e trabalhadores eram necessários. Ao invés de trabalhar no campo, muitos migraram para as cidades para vender a sua força de trabalho em troca de salário nas indústrias recém-formadas. Além disso, o trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês, pois o primeiro executava tarefas monótonas e repetitivas.





Luara Minuzzi e Mariana Müller

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O fenômeno da tribalização

A aula de sexta-feira, 17/4, girou em torno de uma questão central para a sociedade pós-moderna: com o advento de novas tecnologias da comunicação e a fusão do analógico com o digital, quais mudanças emergiram socialmente dentro deste contexto? O que de mais relevante pode-se obter desta questão é a tentativa de superar a discussão antigas mídias X novas mídias e, a partir disso, alcançar discussão maior, qual seja, por quê as mídias mais antigas, tipicamente de massa, são representadas pela relação "um-todos" e as novas tecnologias, tidas como digitais, inferem relação do tipo "todos-todos".

Para isso, como disse o professor por diversas vezes durante a aula, o conceito de tribos cunhado por Michel Maffesoli é de suma importância. Ele se torna relevante por permitir ter acesso à dimensão da mudança, em termos de individualização ou, como diz o próprio autor, de 'dessocialização', causada pela convivência com as novas tecnologias.

Quando se refere a mídias de massa, fala-se predominantemente de dois meios mais difundidos: a televisão e o rádio. Com eles, existe uma relação "um-todos" no sentido de que o veículo não permite interação com o que acontece, por assim dizer, no mundo dentro dele. Em contrapartida, apesar de não permitir 'interatividade', um veículo de massa socializa na medida em que torna possível que várias pessoas unam-se para participar daquele acontecimento que está sendo veiculado. O exemplo mais claro deste caso é a situação-clichê da família reunida em volta da televisão e, simultaneamente, várias famílias em outras casas também reunidas em volta de um televisor, todas numa relação, grosso modo, unidirecional. Afinal, embora possam todos estar assistindo a um mesmo programa, por exemplo, eles não conseguem se relacionar entre si, porque este tipo de veículo de comunicação não permite tal grau de interação. Por isso diz-se "um-todos". A mídia de massa socializa. Caso semelhante não acontece com novas tecnologias que surgem por volta de 1975.

A mídia tida como digital, que tem seu pontapé com a criação do PC - Personal Computer - ela dessocializa. A família reunida em volta do televisor ou do rádio dá espaço à individualização do mundo pós-moderno. Porém, como aponta Maffesoli, a individualização trazida pelas novas tecnologias criaram outro aspecto: o da tribalização. A partir do momento em que se tornou possível livrar-se das rédeas dos meios de massa e da consequente relação 'um-todos', o aparente isolamento que esta nova configuração poderia supor foi substituida pela personalização da relação com os meios de comunicação. As novas mídias dessocializam, sim, mas personalizam a relação e adicionam a ela a possibilidade de escolher o que fazer por interesses. A relação não é mais unidirecional. A relação de o que ouvir, de com quem conversar, de o que assistir agora é diretamente influenciada e escolhida por quem está em frente ao meio de comunicação. As novas tecnologias, as mídias digitais dessocializam na medida em que proporcionam que se viva mais, por assim dizer, de maneira personalizada. Dentro do processo de personalização das referências do cotidiano, encontra-se a origem do processo de tribalização, da reunião de pessoas por gostos e tendências comuns. A mídia digital, assim, individualiza, mas está bastante longe de promover o isolamento. Por mais contraditório que possa parecer, a individualização pós-moderna causa, em certo grau, a interação dos sujeitos contemporâneos.

Posto isto, o que se pode depreender desta que é questão central domundo pós-moderno é que enquanto a mídia de massa destribaliza, a mídia digital retribaliza por meio de uma relação todos-todos.

Porém, nesta individualização e dessocialização do homem pós-moderno, o sujeito contemporâneo é acometido pela situação de desamparo e não-pertencimento. Para preencher este espaço, o fenômeno da 'tribalização' surge como alternativa, talvez inconsciente, para dar conta dessa questão. A consequência é a superficialidade, nos mais diversos graus das relações sociais. Além disso, há uma certa sublimação idiossincrática, fazendo com que o indivíduo pós-moderno abra mão de sua própria essência para fazer parte da essência comum que compartilha com um grupo maior.

A tribalização aparece, portanto, como recurso para que, dentro de uma sociedade dessocializada, o sujeito não se sinta completamente deslocado. É cedo, contudo, para que sejam feitas avaliações definitivas a respeito do efeito que isso tem no psicológico individual dos membros de nossa sociedade.

O fenômeno da tribalização é a maneira para que, dentro desta mesma sociedade dessocializada, o sujeito não se perca e, principalmente, não se isole.

Bruno Mattos e Rafael Maia

Tribalismo

Na aula do dia 17 de abril, analisamos a socialidade contemporânea e o advento das tribos.

“O indivíduo (...) é protagonista de uma ambiência afetuosa que o faz aderir, participar magicamente, a esses pequenos conjuntos viscosos que eu propus chamar de tribos.” (Maffeisoli)

(ambiência = meio material ou moral onde se vive)

De acordo com Maffeisoli, redes de solidariedade se constituem a todo momento, apesar do desencantamento do mundo moderno e da solidão frequentemente relacionada a ele. As características, entretanto, dessas relações que estabelecemos uns com os outros sofrem a influência da época em que se vive.

Citando Watzlawick, o autor fala do “desejo ardente e inabalável de estar de acordo com o grupo”, apontado por pesquisas realizadas nos anos 70. Para Maffeisoli, tal desejo evoluiu para uma realidade na vida cotidiana devido à massificação. Para o indivíduo pós-moderno, estar em conformidade com o grupo é natural, é o meio pelo qual ele se identifica com os outros. Esse ponto de vista vai de encontro ao pensamento de que a sociedade atual é individualizante. O indivíduo não pode existir isolado. Ele está ligado, pela cultura, pela comunicação, pelo lazer e pela moda, a uma comunidade. Dessa forma, o que nos parece ser uma opinião individual muitas vezes é, na verdade, a opinião de um grupo ao qual o indivíduo pertence.

Para o autor, a principal característica da socialidade é que o indivíduo representa papéis dentro dos grupos, ou tribos, dos quais participa. Ele vai mudando seu figurino para assumir o seu lugar nas diversas peças do teatro. Por isso Lemos diz que “a tendência comunitária (tribalismo), a ênfase no presente (presenteísmo) e o paradigma estético (ética da estética) podem ser potencializar e ser potencializados pelo desenvolvimento tecnológico”.

A aparência é uma questão bastante citada pelos autores para a formação de tribos. Através dela, é possível se sentir comum e reconhecer-se. A teatralidade do sujeito, uma das características da sociedade contemporânea, permite que ele experimente, vista diversas fantasias. Além disso, o tribalismo pode ser efêmero: de acordo com as necessidades do momento, ou de como as ocasiões se apresentam, o indivíduo se junta a tal ou tal grupo. Maffeseisoli diz que essa efemeridade é possível graças à rapidez do circuito oferta-procura, o que pode ser observado em sites de relacionamento, por exemplo. Na internet, há grupos (ou tribos) pra quase tudo, desde hábitos alimentares até comportamentos em situações extremas. Em algum deles, o indivíduo há de se encaixar.

O ponto em comum entre os indivíduos que formam uma tribo pode ser muito variado. Pode ser que eles compartilhem comportamentos, preferências musicais e vestimentas, entre outros, como acontece com a tribo dos emos e dos góticos. Pode ser que eles tenham em comum a prática de determinado esporte, como os surfistas e os skatistas. Ainda, pode ser que integrantes de uma tribo não tenham praticamente nada em comum, a não ser quando se encontram para apreciar determinados tipos de bebida, com acontece com as confrarias do vinho e da cerveja. Esses exemplos dão a dimensão da variedade de tribos que existem. Além disso, muitas delas coexistem: um mesmo sujeito, por exemplo, faz parte da tribo dos advogados durante o dia, dos degustadores de vinho à noite, dos freqüentadores de raves nos finais de semana, etc. Em cada um desses momentos, o indivíduo vai representar o papel que se espera dele naquele ambiente: como advogado, manterá a mesma postura que seus colegas, como degustador de vinho, usará os termos técnicos para descrever as características da bebida, e, como freqüentador de rave, se vestirá de forma semelhante aos demais participantes.

Maffesoli cita as principais características dos grupos fundamentados no sentimento partilhado. São elas: comunidade de idéias, preocupações impessoais e estabilidade da estrutura que supera as particularidades dos indivíduos. Segundo ele, é isso que permite usar o termo “alma coletiva”.

É neste contexto que o autor cita o termo “tipo-seita”, do sociólogo E. Troeltsch. A seita é uma comunidade local, na qual basta o sentimento de que se faz parte dela, e que não tem necessidade de uma organização institucional visível. Não há uma autoridade predominante. Podem existir chefes carismáticos e gurus, mas o fato de seus poderes não se apoiarem em uma competência racional ou em uma tradição sacerdotal os torna mais frágeis. Assim, predomina o sentimento de participação em um todo, responsabilidade e proximidade. Cada um é responsável por todos e por cada um.

Podemos ver a importância do afeto (atração - repulsa) na vida social. Ele é “não-consciente” ou, como diz Pareto, “não-lógico”. Ele condiciona as múltiplas atitudes qualificadas de irracionais, observadas em nossos dias. Maffesoli afirma que essas metáforas de tribos e de tribalismo permitem ressaltar a busca de uma vida quotidiana mais hedonista, menos determinada pelo “dever-ser” e pelo trabalho.

É interessante notar que com o passar do tempo alguns dos pequenos bandos se estabilizam. Aí surgem os clubes (esportivo, cultural, etc), ou “sociedades secretas”, com fortes componentes emocionais.

O localismo favorece o que se pode chamar de “espírito de máfia”: na busca da moradia, para a obtenção de um trabalho, ou até mesmo em pequenos privilégios cotidianos, a prioridade será dada aos que pertencem e esses grupos ou aos que se encontram em seus círculos de influência.

As pessoas, entretanto, não estão “presas” a um só grupo, por mais influente que este seja. Elas podem, em um lapso de tempo muito curto, irromper em outro território, em outra tribo, em outra ideologia. Podem, inclusive, participar ao mesmo tempo de uma infinidade de grupos, dando, a cada um, grande ou pequena atenção, conforme melhor lhes convêm.

A comunicação, ao mesmo tempo, verbal e não verbal, constitui uma vasta rede que liga os indivíduos entre si. O autor conceitua rede como sendo um “conjunto inorganizado e, no entanto, sólido, invisível, porém, servindo de ossatura a qualquer conjunto, seja ele qual for”. As informações, assim como as pessoas, não são pertencentes a um grupo específico. Elas circulam entre os indivíduos de uma tribo e entre as tribos. Desta forma, como muitas vezes podemos observar, não podemos conhecer a origem ou o responsável por uma informação ou boato.

No quadro de uma sociedade complexa, cada um vive uma série de experiências que não têm sentido senão dentro do contexto global.


Programa “Tribos”

No ar desde 2006, o programa “Tribos”, do canal pago Multishow, mostra uma nova tribo a cada semana. Apresentado por Daniele Suzuki, a atração apresenta a origem da tribo, o comportamento dos integrantes, as características em comum. Todas as segundas-feiras, às 21h15.

Trechos de alguns programas já exibidos:

Tribo do cosplay: http://www.youtube.com/watch?v=3O9pmS8guss&feature=PlayList&p=709E17ED17CF1D39&playnext=1&playnext_from=PL&index=14

Tribo dos pára-quedistas: http://www.youtube.com/watch?v=9rt_mY2qqoc

Tribos dos góticos: http://www.youtube.com/watch?v=oaG-DYyocQs&feature=PlayList&p=44AF6CAF302CBF71&playnext=1&playnext_from=PL&index=27

Tribo dos ciclistas: http://www.youtube.com/watch?v=Sl9q66lYqIU

Tribo da micareta: http://www.youtube.com/watch?v=5t5TWSPG_Gc

Tribo do toy art: http://www.youtube.com/watch?v=g6ir4givrGk

Tribo dos intercambistas: http://www.youtube.com/watch?v=qdz99sknWeQ

Tribo dos comissários de bordo: http://www.youtube.com/watch?v=G82dCyAGPXU



Isadora Gasparin e Jaciara Rozanski