sexta-feira, 24 de abril de 2009

Tribos


Tribos


- Segundo Maffesoli, dentro de uma sociedade, o profundo pode estar na superfície das coisas. Dessa forma, é através da aparência que diversas tribos unem-se. Ela é um vetor de agregação. A estética é uma forma simples de experimentar, sentir-se comum e, dessa forma, reconhecer-se. Por isso, a maioria das tribos é reconhecida basicamente pela forma que estruturam seu visual. Para o autor, essa ‘teatralidade’ instaura e reafirma a comunidade, todos são, ao mesmo tempo, atores e espectadores.

Nos últimos anos, uma tribo difundiu avassaladoramente suas características visuais. Os “emos” são facilmente reconhecidos. A tribo que teve origem em um gênero musical oriundo do hardcore - emo é abreviação do inglês emocional - com músicas que exageravam no lirismo. A criação e evolução do termo passa por diversas fases e controvérsias. Hoje, os adolescentes que se intitulam “emo” usam roupas pretas, listradas ou neon. Gostam de estampas infantis, cabelos coloridos e tradicionalmente utilizam uma longa franja sob o rosto. Meninos e meninas pintam os olhos com lápis preto de forma marcante. São considerados emotivos e sensíveis.




- Há na sociedade, de acordo com o autor uma propensão ao agrupamento. É fato que a comunicação é de grande importância na formação dos grupos. Pensava-se, no entanto, que apenas a comunicação verbalizada servia de mote para a reunião de pessoas com interesses comuns. Cada dia mais, essa idéia é descaracterizada. Há diversas situações “silenciosas” que estão profundamente estruturadas nos hábitos de vida das pessoas. A arquitetura, o ruído e a música, a linguagem corporal, as artes visuais, o teatro, a dança e o grafismo são bons exemplos do uso máximo da linguagem não verbal. Há uma tribo que encaixa-se muito bem nesse aspecto. Embora haja outras características que os unam, o que é comum, a tribo da dança tem um forte elo com a comunicação não verbal. Antes de tudo, os bailarinos são unidos pela paixão por dançar, independente de ritmo. É claro que há subdivisões dentro do gênero. A tribo se divide em tribos menores de acordo com o ritmo e o estilo utilizado. O elo, entretanto, sempre será o movimento, o dançar, grande expressão de linguagem na verbalizada.




- O “estar junto” é vital para uma tribo. O texto ressalta a importância da consciência coletiva ou de momentos específicos. É através de “ações comuns” como festas, eventos, viagens, encontros onde a sociedade fortalece o sentimento que tem de si mesma. A perspectiva de comunidade, na idéia do autor ultrapassa os limites dos utilitário, funcional ou econômico. A convivência, então, surge como grande trunfo. Um bom exemplo é a divisão de casas noturnas de acordo com a preferência musical dos grupos. Há aquelas onde só se ouve pagode, rock, eletrônica, samba, enfim... Os freqüentadores podem não pertencer a tribo, no entanto, sabem que estão indo até o nicho de determinada tribo e, assim, o que vão encontrar lá. Os roqueiros encaixam-se exatamente nessa situação. Freqüentam apenas locais onde escutam seu estilo musical preferido, o que fortalece a comunidade. As chamadas “ações comuns” reafirmam as tribos e seus membros.




- A socialidade se expressa das mais diversas formas e em momentos distintos. No momento de sua fundação ou quando quer estreitar os laços é particularmente intimista. Uma técnica considerada no texto “simbólica” ou um quase como um sacramento, a refeição pode ser um momento de reforçar alianças. Da eucaristia aos banquetes políticos, passando pelas modernas refeições-reunião, o momento de comer pode estruturar uma tribo. É nele que, além de se selar alianças, pode-se atenuar oposições ou restaurar amizades, por exemplo. Há tribos, inclusive, que só existem por culpa das refeições. É o caso da tribo dos vegetarianos. Aqueles que não comem carnes hoje constituem um conhecido grupo. Alguns optam pelo vegetarianismo por acreditarem que os animais não precisam ser mortos para que os seres humanos se alimentem. Outros apenas acreditam que o consumo exagerado de carne - vermelha ou em alguns casos também a branca - não é vital ou necessário para a saúde do corpo. Independente da justificativa, o que os une é o fato de optarem por uma alimentação recheada de legumes, frutas e verduras em substituição das carnes em suas refeições.




- Desde muito tempo, sabe-se da importância da linguagem verbal – que surge quando o homem utiliza a palavra, seja essa oral ou escrita - para criar a rede que liga os indivíduos entre si, gerando uma tribo. Cada grupo possui um tipo de fala, com gírias, sotaques, estilos e ritmos diferentes, que os caracterizam e permitem a sua identificação. Os mais jovens possuem em seu vocabulário gírias que os mais velhos costumam não entender, como ficar ou balada. A linguagem verbal também diferencia as pessoas das cinco regiões do Brasil, principalmente através do sotaque. Além disso, muitas palavras presentes no cotidiano gaúcho, não serão compreendidas por um Baiano, por exemplo: termos como cacetinho, cujo significado é pão francês; pechada como sinônimo de choque entre carros; borracho como bêbado; peleia como briga, etc.




- O autor concede uma importância bastante grande para a questão do segredo dentro das tribos. Ele coloca essa característica como base para confirmar e reforçar a solidariedade fundamental, toda vez que é necessário restaurar a ordem das coisas. Na verdade, esse seria um aspecto fundamental para que um grupo se desenvolva de forma autônoma, pois favorece a auto-conservação. O segredo funciona como uma proteção contra a imposição de fora, para que assim as pessoas possam “estar-junto”, ou seja, possam compartilhar um ideal, um hábito. Essa partilha secreta entre os membros de uma tribo faz com que elas resistam às tentativas de uniformização. As sociedades secretas utilizam essa característica de uma maneira radical. O fato de elas serem secretas conferia a todos os membros o poder do mistério sobre o resto da povo, o que explica o fascínio que as pessoas costumam possuir em relação a elas. Pode-se citar como exemplo a Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis (AMORC), fraternidade sem distinção de crença, raça, ou sexo, não religiosa, não dogmática e apartidária. O seu objetivo é o estudo das leis místicas universais, e sua origem oficial teria acontecido em 1350 a.C., com o faraó Tutmés III, da XVIII dinastia.




- Como um aspecto negativo das tribos, o autor ressalta o fato de que uma pessoa, dentro de um grupo isolado, pode acabar aceitando a verdade da sua tribo como única, surgindo assim o preconceito e o racismo. O espírito desse membro não estará aberto a compreender costumes, crenças e características diferentes. Os chamados white power, tribo originada da cultura skinhead, são defensores da ideologia neo-nazista e racista. A banda anti-semita Skrewdriver foi a origem do movimento que promove espancamentos de asiáticos, principalmente paquistaneses. O grupo utiliza o nacionalismo xenofóbico para organizar pessoas em torno de um ideal branco-separatista.




- Maffesoli afirma que cada grande ruptura na história da humanidade (como guerras, surgimento de novos impérios, revoluções, etc.) traz junto de si uma multiplicação de estilos de vida. Cada nova etapa da história vai gerar necessidades e costumes próprios, pois elas rompem com o que é comumente admitido como verdadeiro e correto. Segundo o autor, elas podem ser “efervescentes, ascéticos, voltados para o passado ou para o futuro”. A Revolução Industrial na Inglaterra, em meados do século XVIII, fez com que a classe dos operários surgisse, pois as fábricas estavam sendo construídas e trabalhadores eram necessários. Ao invés de trabalhar no campo, muitos migraram para as cidades para vender a sua força de trabalho em troca de salário nas indústrias recém-formadas. Além disso, o trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês, pois o primeiro executava tarefas monótonas e repetitivas.





Luara Minuzzi e Mariana Müller

6 comentários:

  1. Eu gostei da resenha das gurias. Elas exemplificaram bem o que conhecemos por tribo hoje, acrescentaram algumas coisas que não foram enfocadas na última aula, como o fato de existir tribos que se reúnem por questões fortemente não verbais. Na questão dos sotaques das cinco regiões brasileiras, eu fico em dúvida se isso realmente definiria uma tribo. Acredito que a regionalidade das pessoas se identifica muito mais por aspectos não visuais do que visuais, que são característicos das tribos. As questões regionais parecem-me que são mais uma construção de aspectos culturais, do que a manifestação imediata de idéias e gostos, como os emos que são tão recentes. Talvez minha colocação esteja equivocada, mas a idéia que me vem de tribo é muito mais restrita, do que a construção social que levou os gaúchos a falarem peleia, cacetinho etc.

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  2. Gostei bastante da postagem das colgas e da abordagem do tema, exemplificando tribos e características.
    Porém, discordo do trecho em que afirma que o 'estar-junto'é necessário. É claro que a interação é fator essencial para uma tribo, mas com a internet e - principalmente - as redes de relacionamentos, essa interação não se dá apenas no campo presencial. Destaco que, algumas vezes, nunca houve contato entre as pessoas de determinada tribo, pois elas discutem só por comunidades do Orkut, por exemplo. E, mesmo assim, tais pessoas caracterizam uma tribo, pois dividem os mesmos ideais.

    (Ângela Camana)

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  3. Muito bom o texto! Achei interessante a abordagem do tema feito pelas gurias, exemplificando as diversas formas pelas quais uma tribo pode se formar ou se estruturar.
    No entanto, concordo com a colega Ângela, e acho que o estar junto, no sentido presencial, não é fator essencial para formação de uma tribo, pois, como já discutimos em sala de aula e aqui mesmo no blog, é cada vez mais comum a identificação com as tribos através de sites de relacionamentos, de blogs e etc.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. também discordo do texto das colegas quando afirmam que o "estar junto" é característica das tribos. conforme já foi dito, a partir da Internet, o ato de fazer parte de uma tribo não necessariamente implica estar junto, pois pode-se muito bem fazer parte de uma tribo apenas virtualmente, por meio das redes telemáticas, em que a "união" se dá pelos interesses comuns. tambem discordo quando colocam as peculiaridades regionais como elementos que constituem uma tribo. acho que o sentido de "tribo" se constitui pelo agrupamento de indivíduos com interesses comuns, e não simplesmente pelo modo de falar inerente às particularidades culturais do País.

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  6. Acredito que o elemento vital para a formação e, posteriormente, a consolidação de uma tribo não se situe no plano presencial, mas sim na sensação de pertencimento de um indivíduo em relação a um determinado grupo/núcleo e suas práticas e "ações comuns"; como as colegas comentaram, a incorporação das redes sociais via web faz com que o "estar junto" perca sua inerência neste novo contexto da comunicação. Achei particularmente interessante a menção aos exemplos de tribos que se expressam através da linguagem não-verbal: por se diferenciarem do modelo tradicional, muitaz vezes não adquirem importância em um amplo cenário. Para mim, a passagem que define e caracteriza a resenha das gurias é a "aparência/visual/estética como vetor de agregação"; a "teatralidade" desempenhada pelos atores (como cita Maffesoli) me remete à dramaturgia social de Goffman.

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