sexta-feira, 17 de abril de 2009

Novos cenários comunicacionais

Como conseqüência do avanço do sistema de produção capitalista, a realidade no âmbito da contemporaneidade se tornou massiva. Adotando a política do consumo desenfreado, podemos observar com muita clareza que tudo que nos rodeia (e por que não: tudo o que nos faz ser como somos) tem um prazo de validade culturalmente estabelecido.

Essa mudança no sistema de produção é potencializada e abrange outros aspectos de nossa realidade quando toma dimensões que vão além da produção-consumo. As relações pessoais, sobretudo, estão cada vez mais inseridas na ideologia de envelhecimento pré-determinado.

O avanço da pós-modernidade não apenas introduz novos brinquedinhos em nossas mãos, mas transforma o modo como entendemos o mundo, como nos adaptamos as necessidades criadas e como somos afetados pelo pensamento adjunto a essas transformações.

Tratando mais especificamente do modo como as pessoas se relacionam, percebemos que, assim como produtos, as gerações e suas manifestações culturais vão perdendo sua validade. A geração da conversa em bar, conversas em locais públicos vem sendo substituída violentamente (em questão de não ser uma mudança gradativa) pela geração da tecnologia. A cada novo aparelho, interface ou aplicativo lançado, nos é imposto uma série de novas nomenclaturas, rituais, modos de agir e pensar. As formas de socialização são transformadas com as tecnologias, e atualmente necessitamos de telefones celulares, redes sociais online e suas ideologias para mantermos como um bloco social comunicativamente ativo.

Além das mudanças da revolução tecnológica dos anos 2000 terem atingido toda a esfera global, os não adeptos a esse novo padrão cultural de curta validade são cada vez menos participantes dos grupos sociais. Reuniões, encontros, comemorações e até mesmo simples conversas dependem de aparatos tecnológicos, o que, de certa forma, exclui todos os não adaptados às novas tecnologias.

Por outro lado, é muito claro que essas novas tecnologias auxiliam e resolvem muitos problemas que não sabíamos resolver no passado, contudo, é necessário estudar a fundo as conseqüências da revolução tecnológica, os seus impactos na sociedade e, acima de tudo, o que mais além de facilidades e soluções está adjunto (padrões culturais impostos, mudanças comportamentais, criação de novas necessidades) a ela.

Lucas Ferreira Piccoli

6 comentários:

  1. bom texto!apontou os pontos mais relevantes a respeito do texto. acho que o ponto crucial da questão diz respeito à efemeridade das relações sociais. conforme o Lucas diz no texto, tudo passa a ter "um prazo de validade culturalmente estabelecido". assim como o fluxo de informações é cada vez mais rapido,as interações sociais também. por exemplo: hoje eu e fulano somos super amigos; amanhã, discutims por um assunto qualquer e eu bloqueio ele no msn, deleto do orkut, twitter, enfim, de todos os "meus contatos" virtuais. acredito que a sociedade em rede está fadada ao isolamento do indivíduo, que cada vez mais se fecha, foge da interação face a face, e se entrega às interações virtuais, que dão a ilusória impressão de que nunca estamos sozinhos.

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  2. Eu vejo toda essa questão dos tipos de relacionamentos formados a partir das novas tecnologias de maneira bem pessimista. Eu sei que as novas tecnologias podem proporcionar novas experiências que seriam impossíveis na realidade não virtual, como ter "amigos" na Ásia. Mas o que mais me preocupa é o fato de que elas também distanciam as pessoas, e no meu ponto de vista de uma maneira muito mais forte do que aproximam. Relações locais que você possui, podem se enfraquecer quando você se contenta apenas com um encontro virtual no msn, ao invés de ir ao cinema com seus amigos. Além disso, para mim é inevitável pensar que relações virtuais são apenas ilusórias, pelo fato de não haver interação face a face.

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  3. Discordo do comentário da Sarah. Não acredito de forma alguma que as relações virtuais sejam 'ilusórias'. É claro que é ingenuidade acreditar que encontrou o melhor amigo da sua vida depois de uma semana conversando em um chat com alguém há quilômetros de distância (assim como é ingenuidade acreditar nisso em relações presenciais). As 'amizades virtuais' requerem, sim, mais tempo e uma certa desconfiança... mas não acho que sejam impossíveis.


    (Ângela Camana)

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  4. Novamente acho que tudo depende do modo com que as pessoas usam a Internet nas relações pessoais. Acredito que conversar com um amigo local pela Internet é bom para contar novidades, marcar encontros, falar do dia-a-dia, mas também o ideal é que isso não substitua um encontro presencial.
    Confesso que eu também tenho um pouco de desconfiança quanto às relações totalmente virtuais, mas acredito que com uma certa cautela elas possam ser viáveis e verdadeiras.

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  5. Muito bom o texto. Direto e econômico!
    Sobre a exclusão de quem não tá no sistema tecnológico, citada no penúltimo parágrafo, pode-se dizer que ela é evidente. A sociedade tecnológica tende a se alienar das outras ao ficar muito auto-centrada.
    Alienação cultural entre países me parece ser tão marcante nessa nossa época quanto o desconhecimento de hábitos entre vizinhos.

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  6. O texto do Lucas aborda os principais e mais polêmicos pontos de discussão no que diz respeito ao cenário comunicacional-interpessoal. Observa-se claramente a transformação cultural dos padrões comportamentais a partir da comunicação/relação mediada pela Internet; neste contexto, trata-se de uma ferramenta exclusiva, seletiva e pouco democrática, uma vez que restringe seu acesso a poucos usuários. Estou de acordo com o comentário feito pela Sara. Pensar a concepção das realções virtuais através de um caráter ilusório é valido, já que as próprias interações face a face se tornaram descartáveis no mundo contemporâneo (o qual é pautado pelo imediatismo). Entretanto, dependendo do modo como as pessoas utilizam os aplicativos, o isolamento pré-estabelecido pela Internet pode muito bem ser convertido em maior interatividade, permitindo novas formas de relacionamento a partir de "blocos sociais comunicativamente ativos". Aqui não se trata da substituição do presencial, mas da incorporação/adaptação/aproveitamento dos valores sociais únicos proporcionados por novas estruturas.

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