quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cibercultura e as novas tecnologias de informação e comunicação

Na sociedade pós-moderna, percebe-se uma diferença no que diz respeito à comunicação: as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, que surgiram na década de 70 a partir da união entre a informática e os meios de comunicação de massa mudaram radicalmente a maneira com a qual os indivíduos passaram a se comportar no que se chama de “sociedade da informação”.

Se a principal preocupação dos pensadores e críticos da sociedade moderna, como Theodor Adorno, era com a indústria cultural, com a monopolização e criação de um modelo de comercialização de bens culturais veiculados nos principais meios de comunicação nesse período; o que dizer então da sociedade pós-moderna, em que a produção é descentralizada, de fácil acesso, desterritorializada e instantânea? Essas preocupações fogem a discussão apenas sociológica. Agora valoriza-se o todo (social), a parte (antropológica) e os meios que unem a parte ao todo: a técnica. Dessa junção temos a cibercultura que insere novos temas como o homem cibernético.

A Internet, como meio, mudou a relação do ser humano, e do fluxo de informações, trazendo um novo paradigma: o fluxo de informações é maior, mas a confiabilidade é menor. A Internet proporciona a possibilidade uma maior “democratização” no acesso à informação, as fontes, porém, são consideradas menos confiáveis e é possível encontrar falsas informações.

A comunicação em si muda radicalmente com o advento das redes, uma vez que não se pode definir precisamente quem é o emissor e quem é o receptor, já que se produz conhecimento e este está aberto para quem desejar vê-lo. Essa falta de definições pode ser, até certo ponto, prejudicial, uma vez que as mensagens mau-intencionadas e sem seriedade estão disponíveis juntamente com as consideradas sérias. Como o leitor poderá diferenciar? E como aqueles que produzem esses conteúdos podem adaptá-los, uma vez que o público é heterogêneo e desterritorializado?

A “planificação” do mundo, conceito apresentado por Thomas Friedman é um fator interessante de ser analisado, uma vez que existe uma cultura global e a cibercultura é diretamente ligada a esta, os interesses comuns de indivíduos ao redor do mundo tendem a encontrar-se em fóruns, chats e sites de relacionamento, tal qual Orkut, Facebook e Myspace. As distâncias físicas deixam de existir a partir do momento em que se pode falar e ver pessoas em outra cidade, estado ou país, pode-se ler notícias, conhecer lugares, fazer amizades e ter relacionamentos sem conhecer o outro pessoalmente.

As relações pessoais modificaram-se também com a criação das ‘redes sociais’, uma tendência que, ao mesmo tempo em que possibilita a “retribalização” da sociedade, deve ser pensada com mais cautela, uma vez que os limites entre o que é público e o que é privado se perderam, causando um “oversharing” que pode ser prejudicial. Pode ser dado como exemplo o caso da pessoa que foi demitida de seu emprego após falar mal do lugar onde trabalhava no facebook. http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/02/27/jovem-inglesa-demitida-por-reclamar-do-trabalho-no-facebook-754614797.asp

O microblog Twitter, por sua vez pode ser ligado a inclinação ao presenteísmo que a sociedade pós-moderna encara. Nas mensagens postadas – que devem ter um número limitado de caracteres – muitos usuários aproveitam para dizer o que estão fazendo, onde estão, além de postar links para outros sites e entrar em contato com outras pessoas. O Twitter vem sendo usado também pela publicidade como uma nova ferramenta; recentemente, o apresentador Marcelo Tas assinou contrato com uma empresa de telefonia para fazer pequenos anúncios no Twitter. http://info.abril.com.br/aberto/infonews/032009/20032009-48.shl

A música, por sua vez, vive também um momento de mudança; enquanto as grandes gravadoras tentam acabar com os downloads, fechando comunidades como a “Discografias” – no orkut, o site youtube decidiu usar a ferramenta Internet para promover a música através da “Orquestra Sinfônica do Youtube”. O projeto reúne músicos de todas as partes do mundo, que mandaram vídeos para o site e foram selecionados por um júri composto por músicos renomados e através do voto. A Orquestra se apresentou dia 15 de abril no Carnegie Hall, em Nova York. A iniciativa é excelente porque traz para a realidade o virtual, unindo pessoas através do talento e gosto em comum.
http://www.youtube.com/symphonybrasil?gl=BR&hl=pt
http://veja.abril.com.br/noticia/variedade/orquestra-sinfonica-youtube-se-apresenta-ny-449581.shtml

No entanto, não devemos nos ater apenas a pontos otimistas da sociedade pós-moderna. Vive-se a perspectiva de usos de meios de comunicação não-monopolizados, com o advento da interatividade proporcionada tanto pela internet, quanto pela televisão digital. Mesmo teóricos críticos como Manuel Castells, são otimistas em relação ao funcionamento dos meios possibilitado pela interatividade. Porém, é importante destacar que as modificações ocorridas até o momento são muito mais em relação à migração de parcela das relações sociais para as comunidades virtuais, do que de estrutura social de poder em si. Embora a internet possibilite que o discurso de oposição atinja uma parcela maior de indíviduos, os cidadãos da sociedade em rede parecem não ter consciência deste potencial; e esse comportamento é importante entender, para tomar consciência que há a possibilidade de um uso medíocre dessas tecnologias.

Se, por um lado, temos a inércia provocada pela legitimação e “blindagem” das empresas formadas no modelo de sociedade moderna; por outro, temos uma força potencial de modificação destas estruturas através de novas tecnologias da sociedade pós-moderna como a TV digital e a internet; a partir deste conflito será moldada a forma como a comunicação midiatizada ocorrerá e as funções que cada parcela da sociedade terá. Uma tendência a perpetuação das relações de poder dos monopólios comerciais nas novas mídias retardará o processo de democratização, limitando a participação interativa do público; enquanto conquistas dos grupos opositores ao modelo autoritário permitirão uma comunicação midiática mais democrática e participativa.

Bruna Goss
Daniel Caumo

9 comentários:

  1. Com o advento das tribos – inclusive nossas tribos – assistimos mudanças na sociedade. Acho que isso é melhor, quem não conseguia se socializar ou falar, agora tem onde falar (através do ciberespaço). Exercemos mais de uma função, o que torna o indivíduo mais importante (mesmo que em muitos casos seja uma sensação ilusória).

    Aliás, desconfio que o engajamento social seja também ilusório, só de fachada, conversa de bar...

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  2. Concordo com os colegas quando afirmam que "As distâncias físicas deixam de existir a partir do momento em que se pode falar e ver pessoas em outra cidade, estado ou país, pode-se ler notícias, conhecer lugares, fazer amizades e ter relacionamentos sem conhecer o outro pessoalmente". Sem dúvida, o advento das tecnologias, do ciberespaço, enfim, proporcionam diversos benefícios ao homem, sobretudo no que tange ao acesso às informações. Entretanto, paralelamente, ocorre uma reestruturação nas relações pessoais, alterando a noção que se tinha anteriormente do conceito de namoro, amizade, enfim, das interações sociais. Acho que essas mudanças são positivas devido às facilidades promovidas pelas novas tecnologias. Mas acredito que o isolamento provocado nos indivíduos não é algo que se possa ver com bons olhos.

    Camila Cesar

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Houve uns errinhos de português ali em cima, dai eu deletei o comentário.

    Enfim...

    Acredito que são consideráveis os aspectos positivos que as tecnologias da "pós-modernidade" trouxeram à sociedade, como a aproximação que hoje é possível, por meio da internet,com pessoas do outro lado do mundo. No entanto, ainda não são claras as reais conseqüências que todos esses novos fenômenos sociais podem ter, dentro da própria sociedade. Acredito que todo esse otimismo deve ser visto com mais cautela.

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  5. Assim como todas as novidades, é preciso tempo para avaliar os resultados da internet e dos novos formatos de relações pessoais.
    É muito complicado viver esse período de avaliação, onde coexistem fortes teorias pessimistas e otimistas. Portanto, creio que é natural que fiquemos nos perguntando sobre a validade das novas tecnologias.

    Se por um lado a participação social deixa de ser tão presente no campo físico, todos temos voz no ciberespaço. Se por um lado temos vários amigos na internet, deixamos de falar com o colega que está ao lado. Por isso, realmente não sei o que pensar, já que é necessário que avaliemos vários aspectos para termos uma posição.


    (Ângela Camana)

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  6. Acredito que, como em qualquer novidade, o uso da Internet e das novas tecnologias digitais tem resultados positivos e negativos para a sociedade. O certo é que nossas relações interpessoais vêm se modificando, já que muitos dos nossos relacionamentos têm sido muito mais virtuais do que efetivamente reais. Acho que o importante nesse processo é que saibamos utilizar essas novas tecnologias ao nosso favor, diferenciando os momentos em que o seu uso é pertinente, daqueles em que ele é desnecessário e até mesmo prejudicial.
    Gostei do texto dos colegas e achei muito interessantes os links postados.

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  7. Gostei da sensatez do texto.
    Os autores conseguiram contrapor ideias sem perder nexo, criando um texto bem fundamentado e coeso.
    Contêm unidade temática, coesão e objetividade.

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  8. O texto é bem estruturado, mas concordo com a Sarah quanto à cautela que deve ser adotada perante as inovações tecnológicas. Deve-se ter muito cuidado na maneira com que vamos usá-las. Os links postados parecem bons, vou dar uma olhada melhor depois.

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  9. Achei particularmente interessante a resenha: concisa, clara e pontuada por passagens bastante relevantes. Concordo com os colegas quando afirmam que o advento das redes alterou o processo comunicacional e o modelo unilateral de emissão-recepção de troca de informações; atualmente, a relação "todos-todos", empregada na interação via web, predomina e caracteriza a sociedade pós-moderna. Entretanto, acredito que ainda não exista uma "democratização" no acesso à informação já que a Internet não é disponibilizada ainda a muitos indivíduos, constituindo-se, na minha opinião, como ferramenta exclusiva e seletiva, não inclusiva. Entendo que a participação e o acesso à construção da informação é que poderia ser considerada democrática dentro do ciberespaço.

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