na cultura contemporânea" de André Lemos nota-se o esforço do autor em
traçar uma linha evolutiva dos sitemas técnicos demonstrando a lógica
nas invenções (criar técnica nova) e inovações(desenvolver técnica
antiga). Ao longo do texto, Lemos enfatiza a interrelação entre a
técnica e a sociedade, principalmente de como a primeira tem
influenciado a segunda, culminando assim no que o autor demonomina
como ubiqüidade pós-moderna.
A origem da técnica segue a origem do homem, que tentou por tanto
tempo imitar a natureza, transgredindo o que era considerado
impossível. Dotado de um dito poder extraordinário, o homem conseguiu
superar o natural e não se limitou a seguir os limites impostos pelo o
que lhe era oferecido apenas. Dentro do universo mágico primitivo, a
técnica desconecta-se do religioso mas permanece conectada ao sagrado,
que estabelece com o profano uma relação entre qualidade de mundo,
transformação de mundo e mundo concreto. Por fim, essa técnica foi
definida como o sonho do homem em conseguir as respostas do que não
lhe era palpável, mesmo que esse homem não conseguisse ligar o seu
futuro com o desenvolvimento técnico, o que é mais que aceitável na
atualidade.
Uma das primeiras técnicas a ser reconhecida, na revolução Neolítica,
é o surgimento das civilizações - com sua organização social - junto
com o transporte, metalurgia, desenvolvimento da arte da guerra e o
surgimento da escrita, fator marcante para o estudo da história. Já no
Egito antigo, isso não foi tão perceptível, pois sua civilização
hierarquica fechada e estruturada, que não permitia muitas trocas, não
deu espaço para as inovações.
O sistema técnico grego passou por um bloqueio. As técnicas
artesanais e as novas técnicas estão lado a lado, e não há grandes
inovações em relação aos egípcios. A principal justificativa para esse
entrave foi o nascimento da filosofia Aristotélica e Platônica, que
desprezavam a tekhné. A ciência grega não permitiu o desenvolvimento
grego em larga escala.
A civilização helênica trouxe à tona a preocupação em achar
explicações racionais para a ciência e a técnica. A intuição é
substituída pela experimentação, teorização após investigação. A
técnica é laicizaa e dessacralizada. Nascem a matemática, a
geometria, a aritimética e também os manuais-receitas que visavam a
moral, a política, a economia e a religião. É nesse período que a
técnica passa a ser vista como é hoje.
Com a expansão territorial, os romanos vão apropriando-se das
técnicas dos povos dominados, e com isso, pouco inovam de fato, ainda
que tenham expandido essas tecnicas. Muito da genialidade dos romanos
foi creditada à combinação dessa mistura de técnicas com a aplicação
das mesmas e de sua difusão por todo o espaço alcançado. Nasce aqui o
direito, a arquitetura, a urbanização, as técnicas sociais como
administração - visada na gestão social -, além do campo de energia.
Época de intensa atividade técnica, principalmente pela falta de
estranhamento às transgressões, como a aplicação do feudalismo; as
Cruzadas trouxerem o comércio com o Oriente, e com isso, o escambo de
técnicas. No séc XIV surgem tensões sociais, que aliadas ao misticismo
e a contemplação medieval enfraquecem as inovações. A energia tem
grande importância, já que as principais inovações medievais provem
dela: energia hidráulica (moinho) e eólica. A atividade industrial
pode avançar graças ao aperfeiçoamento na utilização do metal.
A difusão e a banalização das técnicas conhecidas trazem a preparação
para a modernidade. O desenvolvimento das profissões, pelas
corporações de ofícios, foi consequencia disso, que também trouxe
progresso social: o homem considera-se referência em relação a técnica
e não mais a natureza.
O surgimento biela-manivela é considerado por alavancar a era do
maquinismo, que demandou muita energia. Primeira tríade: bússula,
pólvora e imprensa. A revolução que aparece aqui é epistemológica, no
uso da razão (centro do universo) para explicar o conhecimento,
colocando o homem como reordenador do univeso. Além da fascinação pela
descoberta científica para o progresso social, e da técnica não sendo
mais vista como mágica (ordem divina). Substituição do teologismo pelo
antropocentrismo.
Cenário da época: Inglaterra, 1780; indústria têxtil, invenção da
máquina a vapor e aplicação industrial da produção de ferro foram
fundamentais para impactar a revolução. O desenvolvimento da técnica
aqui é compreendido para a avaliação do progresso social (o futuro, a
modernidade) numa escala global, além de ser ligado a economia
política pela primeira vez. Aceleradas inovações tomaram o lugar das
invenções, como o mecanizaçaõ, que trazem como efeito as grandes
unidades de produçaõ. Nova tríade: metal, carvão e máquina a vapor.
Novo sistema técnico baseado na eletricidade, no petróleo, no motor à
explosão e na indústria química. Dois principais períodos: Adaptação
de técnica e economia (1855-1870) em que houve o aparecimento das
redes bancárias, uma organização industrial e o crescimento
demográfico, que provocou um aumento na demanda e esse, por sua vez
trouxe uma necessidade em aumentar ainda mais a produção. Segund
período: Produção de energia em larga escala (1880- 1900) em que houve
o surgimento dos turbocompressores e motores à explosão e elétricos, o
uso de aços especiais, da química de síntese e de lubrificantes;
juntamente com a diversificação dos meios de transporte e de
comunicação veio a relevância da necessidade de transportar mais
rápido (estar em todos os lugares ao mesmo tempo) e de informar o mais
breve possível (saber tudo antes de todos).
A ciência-técnica é definida como essencial para o progresso, ou
então, o Mito da Modernidade, onde progresso e técnica andam de mãos
dadas. O homem é colocado não apenas no centro do universo tangível,
como também do univeso inteligível. Um paradoxo aqui é formado: com o
avanço das técnicas, e dos sistemas desmembrados dessas técnicas, há
ao mesmo tempo, uma excitação pela alcance da velocidade do avanço e
um medo social pelo temor da perda de segurança no trabalho.
Esse período paradoxal é chamado de Era Neotécnica (megamáquina
civilizacional) que alcançou seu apogeu com a modernidade (energia X
política X propriedade X lucro X privilégio). Mumford diz que a Era
Eotécnica (harmonia entre homem e natureza) foi substituída pela
Paleotécnica (auto-destruição gerada pela Revolução Idustrial), e
essa, pela Neotécnica. O conhecimento científico torna-se autônomo e
institucionaliza-se em valor (Merton); ou seja, a técnica-ciência é
envolta por um significado de liberdade e transformação social,
ganhando uma nova função num novo culto que quer ter total controle
sobre a natureza (engenharia genética) além de reconstruir a própria
sociedade. O cientista aqui não está mais preocupado em transgredir;
seu único objetivo é desenvolver sua área com a quebra dos valores
tradicionais.
A técnica moderna é simplificada na autonomia entre as esferas da
ciência, da moral, da religião e a arte. Esse sistema autônomo e cego,
então, se caracteriza por modificar ininterruptamente os elementos que
transformam a consfiguração do sistema, dominação social sobre
dominação técnica, um todo tecnocrático que reelabora os aspectos da
vida social, e por fim, esse novo sistema rejeita as realimentações e
funciona somente seguindo sua própria lógica. Como consequência disso
tudo percebemos que esse novo sistema nos leva a individualidade e
egocentria extrema humana, sempre querendo superar as técnicas
antigas, pois o único fator importante agora é a eficiência dos
processos técnicos. Os artistas (atuais mágicos), aqueles que
conseguem enxergar aquém de sua época, se desprendem desse sistema, e
se manifestam atravém da arte que é pouco compreendida pelos seus
contemporâneos que são limitados pelo sistema.
A técnica passa a ser o instrumento do desenvolvimento das forças
econômicas e do progresso da cultura? (Spengler), afastando o homem da
sua simbologia no todo. Ela estaria em meio a construção de uma esfera
própria, afastada, transformando o homem num mero instrumento de
desenvolimento técnico. A tecnocultura vai estabelecer um poder
unidimensional, selando o saber-poder. A nova estrutura social
determina a as organizações trabalhistas visando o aproveitamento do
tempo e priorizando as divisões das etapas das tarefas. A velocidade
da máquina é que vai moldar o trabalhador (tempo X movimento).
Criam-se novos paradigmas a partir do pós-guerra: energia nuclear
(com o assombro do potencial destruidor), informática (o novo rico é
aquele que possui mais rapidez da informação), engenharia genética
(poder controlar os seres vivos), planetarização da sociedade
(globalização). O sonho (técnica é sinônimo de transformação no mundo)
vira pesadelo (problemas sociais causados pelo mau uso das técnicas).
A ubiquidade pós-moderna dá liberdade à simulação do novo mundo, onde
a tecnologia digital permite que estejamos em vários lugares ao mesmo
tempo (com o advento da internet e videoconferências), dando um novo
sentido ao "aqui e agora".
Após ter percorrido o desenvolvimento da técnica, compreende-se como o
desenvolvimento exige a união entre a ciência e a técnica. O fato da
religião, moral, arte e ciência serem separadas em distintas esferas
faz com que a última se desenvolva com mais liberdade e de tal forma
que termina por se impôr perante as demais. Atualmente há quem defenda
que que a tecnologia seja uma nova religião, despertando fascínio e
tornando um símbolo mágico e místico para a sociedade. Tal fato é tão
importante que, se analizarmos pelos dados do IBGE sobre o Brasil
(Censo Demográfico 2000), os determinados como "sem-religião" estão em
torno dos 7,4% - superado apenas por católicos (78%) e protestantes
(15,4%) - e a cada vez tende a aumentar este percentual. Este é um dos
indícios de que a revolução tecnológica tem modificado a sociedade: a
eliminação do que não é técnico, a dessacralização. A atemporalidade e
a onipresença também são importantes para compreender a mudança
sociológica que enfrentamos, pois dão ao homem poder que antes apenas
aos Deuses eram concedidos. Enfim, visão que Lemos trouxe, analisando
a evolução da técnica auxilia a refletir e principalmente compreender
a mudança cultural que ocorre a cada vez menor tempo.
Karen Couto
Pollyanna Bittencourt