quarta-feira, 18 de março de 2009

Análise sobre a evolução da técnica na contemporaneidade

O texto “Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea”, de André Lemos, principia abordando o surgimento da cibercultura não só como “fruto de um projeto técnico, mas de uma relação estreita com a sociedade e a cultura contemporânea” (pág. 28). Através desse aspecto, o autor precisa as primeiras noções sobre as diferenças entre técnica e tecnologia. Um dos conceitos que é inicialmente construído para realizar a distinção proposta é a phusis. A phusis representa o fazer natural e autopoiético, o qual é capaz de gerar a sua auto-reprodução e guardar os mecanismos para tal. “Tekhnè e phusis fazem parte de todo o processo de vir a ser, de passagem da ausência à presença, ou daquilo que os gregos chamam de poièsis” (pág. 29). Esta frase nos encaminha ao próximo conceito a ser descrito, a tekhnè. Em grego, o termo tekhnè significa “arte”, e evidencia o fazer humano. A técnica está intimamente ligada ao ato de “fazer algo com aprimoramento”, isto é, praticar uma atividade que possa vir a ser melhorada pelo seu aperfeiçoamento. O homem é colocado no centro do fazer poiético por meio dela e confronta diretamente as coisas da natureza.
Na acepção filosófica grega, havia um conflito entre tekhnè e epistemè, que delimitava a oposição entre as idéias sofistas e socráticas. A filosofia sofista, a qual defendia o isolamento do saber prático (tekhnè), era censurada por outros pensadores que privilegiavam a epistemè (saber teórico) e o conhecimento adquirido a partir desta, determinando a inferioridade das artes práticas perante a atividade intelectual-conceitual. Dessa maneira, a crítica à sofística se baseia no fato de que ela não necessita de princípios científicos para ser exercida, sendo aquele que possui apenas a técnica nada mais do que um imitador, um simulacro. Além disso, a visão aristotélica segue a linha de pensamento socrática conduzida por Platão e complementa que as atividades práticas são inferiores às coisas da natureza, visto que a tekhnè imita e domina a phusis, usando-a. Portanto, a tekhnè constitui-se em algo limitado porque depende e utiliza a capacidade autopoiética da phusis para si.
Por outro lado, Lemos discorre sobre o fato de que “o homem é um ser técnico por definição” (pág. 30), isto é, a técnica constitui-se em elemento indispensável à evolução da vida humana. Assim, o autor classifica a técnica como elemento zoológico, apresentando-a como responsável pelo intermédio entre a natureza e o homem. Ela atua como a solução zoológica do ser humano quando este se defronta com a natureza. Outro fator importante é o posicionamento de Lemos, no qual ele afirma que “a tekhnè que inventa o homem e não o homem que inventa a técnica” (pág. 32). Desse modo, a origem da fala, por exemplo, configura-se como um aprimoramento dos gestos corporais, dos desejos internos exteriorizados pelo corpo.
Sobre a gênese da técnica, Gilbert Simondon, influenciado por Henri Bergson, desenvolve a hipótese genealógico-evolutiva, que corresponde a um período da relação homem-mundo. A tecnicidade apareceria para resolver os problemas - dramas - colocados por essa fase primitiva na relação, a qual ele denomina fase mágica. “É pelo desdobramento dessa primeira estruturação (fase mágica) que surge a distinção entre figura (o objeto) e fundo (a religião)” (pág. 35). Por conseguinte, aparecerão duas novas formas de se solucionar a situação: a técnica, que responde aos problemas de figura, e a religião, que se ocupa dos fenômenos de fundo. Segundo Simondon, “o homem cria a técnica para resolver os conflitos dos fenômenos da natureza, e a religião para tratar do espírito, do simbólico e do imaginário” (pág. 35). E, concluindo o seu parecer, finaliza argumentando que “a técnica é, assim como a religião, uma solução particular para a saturação do modo mágico do homem estar no mundo”(pág. 35), ou seja, o homem faz uso de ambas as noções para estabelecer a sua relação com o mundo. Quando não é possível encontrar explicações técnicas para fenômenos naturais, o arranjo se dá pela conversão de tais fenômenos para o âmbito espiritual (religião).
Nos últimos anos, pode-se apreender o sentido de modernidade do vocábulo técnica. Quando pensamos em tecnologia, visualizamos máquinas e avanços referentes ao campo das ciências exatas. Entretanto, um fenômeno vem ganhando amplitude no decorrer dos séculos, mais especificamente a partir do primeiro período da revolução industrial: o estranhamento do homem em relação àquilo que ele mesmo produz. O homem emprega a técnica para a concretização dos seus interesses. É ele quem, em tese, detém poder sobre ela, manejando-a conforme melhor lhe convém. Eis que surge, neste ponto, um paradoxo. A tecnicidade humana parece ter atingindo um limite onde o homem não é mais o inventor que manipula os sistemas maquínicos: ele está cada vez mais afastado do seu invento, tornando-se operador de um sistema independente, autopoiético, que se auto-sustenta. O homem tem se tornado, paulatinamente, uma espécie de “funcionário” da máquina, por assim dizer. Basta notarmos, por exemplo, a naturalidade com a qual fomos incorporando diversos aparatos tecnológicos em nosso cotidiano. Essa situação nos permite concluir que estamos rejeitando o embate com a natureza e nos deparando com uma nova composição artificial criada por nós mesmos: a tecnosfera. Neste novo contexto, é a máquina a principal causadora dessa sensação de estranhamento, de não-pertencimento da tecnologia à nossa cultura. E a explicação para isso advém da própria cultura, a qual atualmente se transformou em uma técnica. A sociedade contemporânea, com a evolução das tecnologias e com o aperfeiçoamento das técnicas já existentes, está se modificando de forma gradativa, não apenas no que tange ao trato entre as pessoas, mas na forma de como o próprio indivíduo se insere neste ciberespaço.
É difícil julgar o processo de evolução técnica ao longo dos anos como algo benéfico ou prejudicial. Tem-se o lado positivo se considerarmos a forma como a tecnologia facilita nossas ações no dia-a-dia. A internet, em especial, permite-nos estar atualizados a qualquer momento e com maior rapidez. Aproxima os diversos povos - ainda que virtualmente -, ao mesmo tempo em que separa uma população local. Repelimos a interação face a face para dar lugar àquelas intermediadas pelo computador. Geramos, todos juntos, uma cibercultura, na qual há uma reestruturação das relações sociais entre o homem e a técnica. Dentro dos malefícios desse crescente aprimoramento, pode-se citar também os impactos ambientais (aquecimento global, maremotos) no meio ambiente. Esse é o resultado da intervenção humana (ser técnico por excelência) no seio da natureza.
O relacionamento natureza/homem está em constante alteração por meio da reestruturação das técnicas, as quais são resultantes de um processo dialético que tende ao infinito. As novas tecnologias incorporam-se em nosso âmbito social de maneira progressiva. Elas se misturam em nossa cultura, causando estranhamentos e se tornando algo natural concomitantemente. A tecnologia apresenta-se como a forma naturalizada dos objetos técnicos junto à ciência, mantendo-os unidos e sem que se possa distinguir onde um se inicia e onde o outro acaba. É a expansão da cultura eletrônica, expansão dos media que, como afirmou McLuhan, “alteram, e mesmo moldam, nossa maneira de ver e de interpretar o mundo”.
Sendo assim, a técnica, segundo Heidegger, configura-se como “um desvelamento, um modo de existência do homem no mundo”(pg. 37), o que significa que o homem acaba por dominar a natureza, utilizando-a como fonte de alimentação para suprimento de suas necessidades, entregando-se ao controle e manuseio humano. Entretanto, ao passo que incorporamos os objetos técnicos ao nosso cotidiano, naturalizando-os, acabamos por excluí-los de certa forma, pois o desenvolvimento das tecnologias apresenta-se, simultaneamente, como algo que nos aliena e nos auxilia, causando-nos uma sensação de mal-estar em relação àquilo que criamos. É notável o impacto que toda essa transformação acarreta no ser humano enquanto membros de uma sociedade, dentro da qual se encontra e interage. Ao mesmo tempo que nos criamos a técnica, tornamo-nos escravos dela. Este, provavelmente, seja o maior paradoxo que a reflexão provocada pelo texto de Lemos nos traz.

Bárbara Gallo
Camila Cesar

21 comentários:

  1. Muito bom. Embora discorde em alguns pontos, tenho que admitir que o texto foi muito bem escrito e o tema bem desenvolvido pelas colegas.

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  2. Muito bom o texto, além de ser bem escrito resumiu o assunto de uma forma bem ditática. O texto flui com facilidade para a leitura.

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  3. Acredito que as gurias, Camila e Barbara, conseguiram fazer um panorama bem completo sobre o texto que estudamos do André Lemos. Elas extraíram as principais idéias expostas pelo autor, como as diferenciações entre Tekhnè e phusis, as idéias sofistas e socráticas referentes a esses conceitos e dentro dessa discussão a questão do poiético (tekhnè) e do autopoiético (phusis).
    Também apresentaram questões do texto que motivam a reflexão, como o fato da tekhnè inventar o homem e não o contrário.

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  5. Um texto muito completo e didático. Os questionamentos apresentados acerca da evolução técnica e da própria relação entre o homem e a técnica são muito bem colocados.

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  6. Achei interessante o aprofundamento da questão de a técnica ser considerada inferior por Platão e Aristóteles. Esse ponto merece atenção, pois nos faz questionar porque a técnica – hoje tão difundida e aceitável – não era vista com bons olhos por alguns pensadores.
    A forma como a resenha aborda a questão da evolução técnica, julgando-a tanto benéfica quanto maléfica, deve ser destacada. Há diversos pontos que podem ser debatidos através dessa perspectiva, como o acesso (por vezes irrestrito) a quase qualquer conteúdo via web, as mudanças nas relações sociais depois da difusão de tecnologias que permitem a comunicação virtual, entre outros.

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  7. Começando pela bajulação (que todos viram uma única vez e começaram a reproduzir): Sim, ótimo texto, uma excelente análise em cima do texto original - tornando-o claro, porém não raso. Dois dos textos, gostei mais deste, pois é o que é mais valorizado é a filosofia.

    A Phusis é a natureza e a natureza, não importa o que aconteça sempre será a natureza e conseguirá "continuar" (autopoiética), mesmo nós - seres humanos - a modificando ou um meteoro gerando um buraco na terra que mais tarde se tornará um lago. A Tekhné não passa da nossa capacidade de reproduzir a phusis adaptando e melhorando-a conforme as nossas necessidades. A utilizamos e a manipulamos, Tehkné só reproduz e aperfeiçoa.

    Porque os sofistas são sempre os malvados? Na faculdade de direito, eles são muito bem quistos. Tsc...

    "A tecnicidade humana parece ter atingindo um limite onde o homem não é mais o inventor que manipula os sistemas maquínicos: ele está cada vez mais afastado do seu invento, tornando-se operador de um sistema independente, autopoiético, que se auto-sustenta."

    Quando leio essa parte me veem a cabeça as imagens da belíssima trilogia de James Cameron: "Exterminador do Futuro". Em Matrix há muita filosofia por trás de belos efeitos especiais, nesse filme também parece ter. (risos)

    Mas acho que é incontestável afirmar que o aprimoramento da técnica nos trouxe mais benefícios do que o contrário, contudo cabe a nós sermos capazes de controlá-la antes de atingirmos o limite sobre o domínio da phusis.

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  8. Oi. Gostei bastante da resenha, principalmente por estar bem concisa. A discussão final ficou particularmente interessante.

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  9. Acredito que seja muito complexa essa questão, que - como já dito - as autoras administraram muito bem. É particularmente difícil para mim compreender e aplicar os conceitos de 'tekhnè' e 'phusis'. Isto porque vivemos em um mundo em que a tecnologia é absorvida com uma velocidade e naturalidade surpreendente, o que me leva a perguntar: o que, afinal, é a phusis? Mais difícil ainda de atingir uma resposta fico quando - em aula - comentamos que nem mesmo a fala é natural.

    A reflexão final é excelente, creio que o homem nunca esteve tão 'incompleto' como hoje, msmo tendo disponíveis diversas tecnologias. Junta-se tal fato ao consumo intenso e à infelicidade geral que muitos alegam: será que vivemos a era da insatisfação?


    Ângela Camana

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  10. A questão levantada pelo Rodrigo sobre o porquê dos sofistas serem sempre os malvados é bastante pertinente. De certa forma, o relativismo cultural utilizado por eles reflete muito em disciplinas como a antropologia, sociologia e outras ciências humanas. Creio, porém, que a crítica dirija-se mais àquilo que Foucault aponta em A Ordem do Discurso: na fala sofista, eventualmente, o discurso torna-se mais importante do que o conteúdo e a verdade inserida no mesmo. Isto sim é bastante problemático.

    Discordo ligeiramente da conclusão. Não acho que o homem seja um "escravo" da técnica, mas sim que a existência de ambos encontra-se interligada. A técnica não escraviza o homem, mas é parte do mesmo.

    Ainda assim, achei a síntese excelente. As gurias estão de parabéns.

    Bruno Mattos

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  11. "A tekhnè que inventa o homem e não o homem que inventa a técnica”
    Ao meu ver, o entendimento desse trecho do texto é de extrema importância uma vez que devemos nos questionar se haveria para a raça humana a escolha de "fugir" da técnica. De uma maneira ou de outra, o homem não viveria apenas da 'phusis' e o nível tecnológico atual da sociedade era inevitável. A 'phusis' existiria como um meio de, talvez, regular a aplicação da 'tekhné' pelo homem, já que esta impõe barreiras para a vontade humana.
    Quanto à conclusão, também discordo em alguns pontos, não acho que a criação, a tecnologia, fuja ao controle de seu criador (homem) pois ela jamais possuirá o poder da autopoiésis como a 'phusis'.
    No mais, excelente resenha, bem argumentada, expondo bem as idéias do livro de André Lemos.

    Fernanda Nicolao Mattei

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  13. Achei bem legal o texto, uma síntese boa que destaca as principais ideias do texto original.
    Gostei da parte em que destaca esse vínculo entre o homem e a tecnologia nos dias atuais, no qual não sabemos se é mais benéfico ou maléfico, pois estamos cada vez mais encomodados e insatisfeitos como destacou a colega Ângela.

    Rafaela Duarte

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  14. O texto das gurias foi muito bem construído: explicações claras, opinativo e bem abrangente. Traçaram um belo panorama do texto com a aula.

    Gostei, particularmente, da relação que fizeram do homem e suas tentativas de explicar o mundo. Técnica e religião caminham “lado a lado” na tentativa de saciar a curiosidade desse ser pensante - sempre insatisfeito com aquilo que desconhece. Nesse sentido, há uma certa complementação, já que a segunda tenta explicar o que não foi elucidada pela primeira.

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  15. Confesso não ter concordado com todos os pontos analisados, mas acredito que a resenha que, em alguns momentos, pareceu mais um resumo, ficou bem legal.

    Acredito que a parte em que foram discutidas as diferenciações entre Tekhnè e phusis, as idéias sofistas e socráticas tangentes a estas questões ficou bastante clara e objetiva.

    Em relação à conclusão, ainda me encontro num caminho controverso em relação ao fato de que a criação (tecnologia) fuja das mãos do homem por achar complicado a afirmação de que a autopoiésis da phusius possa ser credidato a este processo, desvinculando o papel do homem e da tékné.

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  16. Vou ter que discordar do trecho "A tecnicidade humana parece ter atingindo um limite onde o homem não é mais o inventor que manipula os sistemas maquínicos: ele está cada vez mais afastado do seu invento, tornando-se operador de um sistema independente, autopoiético, que se auto-sustenta." pois não penso que nós sejamos apenas "operadores" ao inves de "inventores". Concordo que muitas das tecnologias tem tomado espaço e importância vital para nós, mas acho que ainda podemos controlar essas tecnologias antes que isso tudo se torne um "sistema independente, autopoiético".

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  17. Assim como meus colegas acima, gostei bastante da resenha das gurias. Achei que ela ficou clara e expôs de forma objetiva alguns conceitos básicos para o entendimento do texto de André Lemos, como o conceito de phusis e de tekhnè.
    Gostei também da parte em que é citada a oposição entre as idéias sofistas e socráticas, a primeira defendendo o isolamento do saber prático (tekhnè), em detrimento do saber teórico (a epistemè).
    Em minha opinião, o processo de evolução da técnica, resultando no surgimento de novas tecnologias, é algo muito mais positivo do que negativo ao homem, basta que a gente utilize essas novas “ferramentas” de forma saudável.

    Patrícia Strack

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  18. A resenha das colegas é bastante coerente ao que o texto apresenta. Concordo com o trecho "É notável o impacto que toda essa transformação acarreta no ser humano enquanto membros de uma sociedade, dentro da qual se encontra e interage", pois se formos relembrar 15 anos atrás, certamente não imaginaríamos que em tão pouco tempo, por exemplo, teríamos celulares com tecnologia 3G, o que hoje tornou-se algo completamente banal. A nossa sociedade é está completamente interlaçada com o digital, e acredito que este fato não tem mais como reverter.

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  19. Essa resenha conseguiu resumir bem o texto.
    Os autores preferiram manter a estrutura do texto original, o que propicia uma reafirmação clara das ideias a quem já leu o original.

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  20. O texto está muito bem construído e didático. Acho interessante acrescentar que, na sociedade ideal proposta por Platão,deveriam ser banidos todos aqueles que trabalham com a imitação da realidade. Portanto, colegas jornalistas e publicitários (que recriam a realidade em textos em jornais e revistas e em campanhas publicitárias, por exemplo), nós não teríamos espaço nessa comunidade utópica.

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  21. O texto faz uma ótima síntese do original de André Lemos, como muitos destacaram, mas também indica, como levantado por Alexandre Moraes, uma clara reafirmação das ideias do autor. Acrescento que não só é uma reafirmação como também uma excelente interpretação do texto.

    Os termos estão bem definidos, com exceção de uma frase do primeiro parágrafo: “Em grego, o termo tekhnè significa ‘arte’, e evidencia o fazer humano.” A segunda oração dá indícios da definição correta, no entanto e o termo arte que surge de tekhnè tem um conceito diverso do contemporâneo. A palavra arte durante os vários séculos sofreu apropriações e também perdeu o conceito abragente através da sobreposição de uma parte desse conceito em relação ao todo. Tekhné esta estritamente ligada a ação humana, enquanto a noção contemporânea de arte seria, de certa forma, um híbrido entre episteme, doxa e tekhné, ou seja, uma reflexão inicial de determinado conceito, uma posterior transgressão do conceito definido através de uma interpretação individual e autêntica, e, finalmente, a intervenção material dessa interpretação.

    É importante relembrar os conceitos clássicos da filosofia grega que fundaram a civilização ocidental, mas não romantizá-los a ponto de torná-los única fonte de reflexão e análise para a contemporaneidade, essa que converge pensamentos das diversas culturas dos mundos ocidental e oriental (apesar da imposição maior de algumas culturas), e é constituída por alguns elementos inexistentes e outros mais complexos que aqueles que formavam a sociedade da Grécia em seu período clássico.

    Em relação a discussão referente a parte fina do texto, concordo com Bruno Cobalchini Mattos quando diz que o homem não seja um escravo da técnica, mas que “a existência de ambos encontra-se interligada”. É impossível imaginar os elementos técnicos em funcionamento e progressão sem a intervenção e criação do homem, a não ser pela utopia ou (distopia) futurísta dos filmes de ficção científica. Porém, acredito que a intenção das autoras com a frase “Ao mesmo tempo que nos criamos a técnica, tornamo-nos escravos dela” fosse menos literal do que está sendo debatido.

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