sábado, 13 de junho de 2009

Ciberarte

Ciberarte


A arte exprime sempre o imaginário de sua época”, afirma André Lemos na primeira frase do texto a respeito da Ciberarte, presente em seu livro “Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea”. Evocando os diversos tipos de arte, encontramos essa relação em um exemplo muito próximo de nós brasileiros: a nossa Literatura.

Dividida em enumeras escolas literárias, se as justapormos em uma linha temporal observaremos não apenas a forte relação de sua temática e estética com o momento histórico, como também o contraste entre suas prioridades. O real, o fato, o técnico versus o imaginário, o ideal, o rebuscado, diversas dicotomias que se repetem alternadamente.

Da mesma forma, André Lemos nos apresenta o contraste de interesses de pensamentos artísticos muito mais amplos, atendo-se principalmente nas relações entre o Modernismo e o Pós-Modernismo. Entre racional, funcional, útil e a experimentalidade.

Se o primeiro é baseado numa forte questão racional, que obriga a arte a alinhar-se a funcionalidade tornando, segundo a filosofia de Descartes, marginais a imaginação e a simbologia no que tange “a construção do ato cognitivo verdadeiro”. O segundo é marcado principalmente pela experimentalidade, pela estética anárquica que todo o aparato tecnológico da época permitia; assim como pela tentativa de desconstrução da fronteira entre a cultura alta e a popular.

E nada mais óbvio do que aproximar culturas valendo-se da comunicação (palavra cuja origem está no tornar comum a todos), comunicação essa que passava a sofrer grandes inovações tecnológicas. Tecnologia essa que causa a desnaturalização da arte, pois se antes a arte analógica representava/imitava o natural, agora a arte tecnológica passa a simular através de modelo matemático o objeto real, criando que chama de “imagens de síntese”. Com isso, supera-se o paradigma fotográfico da imagem e dá-se início ao paradigma pós-fotográfico, sendo este mais apropriado a toda a nova filosofia da arte eletrônica que visa à circulação de informações, a tradução do mundo em bits agora possibilitados pela digitalização.

Entretanto, existe ainda outro ponto muito importante para essa nova arte, a questão da interação e da hibridização. No texto o autor cita a criação do “Hole in Space”, que é algo consideravelmente simples e banal nos dias atuais, mas um grande salto no que diz respeito a interação para a época.

A experiência consistia em ligas duas cidades (L.A. e N.Y.) por um sistema de satélites usando câmeras e monitores, como naquelas vitrines que aparecem nos filmes com várias televisões, que transmitiam informações de uma cidade para a outra. Assim, naquele instante, duas cidades que estavam a quilômetros de distância, passavam a coexistir espacialmente através daquela janela tecnológica. Segundo Lemos, “a experiência propõe um espaço híbrido eletrônico sendo, talvez, a primeira metáfora artística do ciberespaço”.

E essa questão do híbrido parece ser tão importante que ainda hoje é algo buscado pelos desenvolvedores de tecnologias. Desde o Nintendo Wii com os seus sensores de movimento, o cinema estereoscópico 3D desenvolvido pela DreamWorks, até a nova técnica chamada de “Realidade Ampliada”, sendo está atualmente a que melhor desenvolve a criação de um espaço híbrido entre os objetos reais e seus modelos expandidos matemáticos permitindo a interação.

O Jornal da Globo fez recentemente uma matéria que explica muito bem a Realidade Ampliada:

http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1191839-16021,00-O+JORNAL+DA+GLOBO+AUMENTOU+A+REALIDADE.html

Simplificando e resumindo, é uma técnica na qual uma câmera capta a imagem de um objeto aparentemente simples e amplia as qualidades do objeto na imagem, gerando uma interatividade até então impossível com o real e até mesmo impossível com o virtual.

Enfim, valendo-se das mais avançadas tecnologias, a Ciberarte vem para exprimir o imaginário de nossa época, na qual a simples contemplação não basta frente à interação, na qual em nome dessa mesma interação o real e o natural passam a ter um destaque muito menor frente ao seu modelo matemático. Uma arte que nasce, vive e se reconstrói em um espaço “aberto, interativo e não hierarquizado”, portanto, livre; muito diferente da Arte Moderna presa e submetida às regras funcionais.

Ps.: Caso queiram experimentar a realidade aumentada, o Jornal da Globo deixou disponível em seu site a tecnologia. É necessário ter uma webcam.

http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,JZ0-16009,00.html


Por Rafael Ferreira e Eduardo Osorio

Um comentário:

  1. Muito bons os exemplos dos colegas e os links disponibilizados. Concordo quando dizem que atualmente não basta contemplarmos, precisamos interagir. Acredito que esta é uma característica forte dos tempos atuais e define muito bem a ciberarte: possibiidade de interação.

    Ângela Camana

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